quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Plano B


Ele só quer estar ali dentro. Do quarto. Dela.
Mas quando ela, resoluta, se maquia, para tentar sair um pouco de si, ele se faz plateia.
Com a alma nua, segura um pincel que tenta esconder a loucura que sente por ele, acreditando que dissimula com tinta o desejo estampado no rosto.
Uma ou duas músicas que quase lhe fazem trair suas convicções, mais um gole, o isqueiro sempre a mão. As mãos sempre prontas para fazer arder o fogo eterno que jurava que se apagaria a qualquer momento.
O medo botava prazo de validade no desejo.
Gasta mais energia para se convencer que não é real. Mesmo assim, não tem pressa em descobrir que o tempo é linear, apesar de devorar os minutos que têm juntos.
Orgulho e ansiedade minam qualquer história que se rascunha ali.
É fraca demais para viver sem o controle do que sente.
E justamente por isso resolvera se sabotar, revezando suas noites entre os beijos de desapego de um e as tentativas de dominar o desequilíbrio que o timbre da voz daquele outro lhe causa.
Talvez se referindo a ele como o outro, destituiria da posição de protagonista aquele homem, ainda no próximo ciclo.
Arrogante, assume o risco, apostando que sabe lidar muito melhor com a desilusão inevitável que com a iminência de uma paixão não correspondida que tem os dias contados.

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