Um dos grandes desejos que ainda tinha na vida era se apaixonar, mais uma vez. Era tão forte que acteditava que o pacote completo não a amedrontaria. Talvez mais ingênua que safa, acreditavao que saberia fazer das suas vivências algo mais que meras dores e delícias a serem relembradas. Respeitava suas experiências e as tratava com o valor que deveriam ter.
Todo esse embrolho de pensamentos fragmentados e vontades coesas lhe fizeram perceber que o que almejava era o jargão simplório do gozar a vida. Gozar a vida metaforicamente falando e literalmente agindo no corpo físico de um homem. O que resultava no paradoxo perfeito das sensações do orgasmo visceral no plano das ideias.
Em vez do autoglagelamento, da culpa ou da vergonha, assumia a condição humana de ser razão e também carne. Compreendia a necessidade do alimento etéreo e também material. Mais uma vez, masturbar ideias e materializar o gozo do corpo e daquilo que nomeiam alma.
Por ora, confirmava-se com os rascunhos de um folhetim barato e com o ensaio amador daquilo que poderia nunca estrear. E foi com a resignação realista de alguém que sabia que o "por ora", por vezes e para muitos, poderia ser a única coisa que aconteceria, que admirou a honestidade da vida em ser como ela é. E esperava que ela se orgulhasse por enxerga-la sem viseiras, trilhasse seu caminho sem muletas e a percebesse sem a arrogância dos que acreditam ser mais do que podem ser.
Aos crédulos, um brinde à bênção da esperanca, desde que ela não pereça antes do próprio crente. A ela, que dormiu como uma deusa e acordou simples mortal, restava a gestão dos pensamentos, transcritos sob a réstia de uma luz que projetava sombras de ilusões passageiras.
Isso deveria bastar. Deveria. No entanto, cá estava. Praticando a habilidade de fingir ser mais madura do que realmente era. Competência quase inócua, não fosse pela capacidade de flexibilizar convicções.
3 comentários:
No fim das contas, é o que queremos todos (quase), não?
Flexibilizar convicções!rsrsrs
Eu realmente não sei se no fim das contas é isso o que queremos.Mas seria bom se pelo menos eu soubesse o que queremos, o que quero, além de voltar aqui após um grande hiato procurando um caleidoscópio num dia chuvoso... Talvez a Líbia bombardeada, a libido e o vírus!
Michelle, não hiate mais tão longamente, please!
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