Ninguém está imune.
Em um minuto, em quase imperceptíveis frações de segundo, o portal magicamente real do que se acredita sobre o viver, te suga para um lugar que ninguém sabe bem onde é . Então, o bem que se confunde mal; a saúde se traveste adoecida; a lucidez se converte; a lealdade se cansa e trai; a menina acorda senil e vai crochetar ilusões. Ali, já do outro lado, sem saber calcular o quanto já caminhou, você segue urdindo a linha do tempo que também mal se sabe quem começou. Você continua tecendo o ponto cruz que cada um precisa carregar e que talvez, apenas talvez, seja mesmo sua.
Ninguém está imune.
O vírus que vem sempre em larga escala, provoca uma epidemia de nostalgias e salpica a vida com grandes saudades e alguma solidão não mensurável, porque, né, a gente não se especializou na gente mesmo. Então, a gente se vacina da gente mesmo e depois quer se embriagar do outro. É claro que não ia dar certo.
Ninguém está imune.
Côncavo ou convexo, na reta final, todo mundo se vê refletido no espelho. A gente se enxerga sem querer ver. Mas os olhos da alma não tem como cerrar. E, por isso, às vezes, a gente aperta os olhos para embaçar o que está bem ali, nua, sem pudor, e crua, sem sabor - a verdade que sussurra:
Ninguém está imune a absolutamente nada.