sexta-feira, 19 de julho de 2013

O alheio que é tão meu


Todos os meus problemas e desilusões experimentados ao longo de toda a minha vida, desde os mais pueris até os mais dantescos, tornaram-se ridiculamente insignificantes perto da imagem daquela menininha linda de olhos grandes em cima daquele palco, completamente desenganada.Naquele dia, ela sofreu sua primeira grande decepção na vida. E eu não pude fazer nada.

Momentos antes, ela trazia o rascunho de um sorrio ansiosamente guardado para os próximos instantes, emoldurado por duas lindas covinhas, ainda tímidas e iluminadas pelo brilho daqueles olhos tão expressivos e cheio de esperança e que ela não tirava dos meus. Eu, ali na plateia, só desejava e evocava todas as minhas esperanças já mais calejadas e maculadas pela dureza de uma realidade menos lilás que a dela.

Quando seu nome não foi anunciado pelo mestre de cerimônia, aquela menininha, a minha menininha de apenas sete anos sucumbiu. E foi aí que usando todos os recursos que lhe era possível naquele momento ela pediu socorro. Seus olhos vidrados e bem abertos pela surpresa e suas mãozinhas em gesto de desentendimento é só o que minha mente defensiva me permite recordar.  Depois, veio ao meu encontro como quem quer sufocar toda sua tristeza no meu peito, pra depois achar lugar para descansar sua incredulidade.

Pronto! Naquela hora a vida me mostrava do que é capaz o amor. O amor é isso. O outro. O amor é a renúncia total de si em prol de si mesmo. É o paradoxo de se anular em prol do que se é, pois que vem de dentro de si e ainda assim consegue ser você mais de uma vez. O filho... o fio, a linha tênue que separa a razão da emoção. E é por isso que se me fosse possível fazer qualquer coisa para estancar aquela ferida que sangrava nela e doía em mim eu teria feito. Mas eu era impotente e sentia vergonha da minha limitação, mesmo sabendo que não era minha aquela culpa. Fiz e falei o que era permitido pela sensatez. Tentei convencê-la , banalizando a crueldade da vida, sempre compensada pelos aconchego da humanidade. Foi em vão. 

Na noite daquele mesmo dia, vendo-a dormir, permiti que todas as lágrimas que foram reprimidas mais cedo viessem à tona. Queria ser solidária a dor da minha filha, mesmo que na impossibilidade velada da solidão.





3 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
sblogonoff café disse...

Uma neurocientista sofreu um derrame cerebral do lado esquerdo, córtex responsável pela linguagem, pela cognição vertical, pela lógica. Ela teve contato apenas com o córtex direito, seu lado emocional. Ela não sabia onde começava e onde terminava. Se sentia energia conectada com tudo ao redor. Sentia que era capaz de amar, amar a si e ser o outro. Uma epifania. Mas era um AVC.

Acredito que as mães acionam seu lado direito sem terem AVC.
Porque acredito que ser mãe é sentir o que a Dra.Jill sentiu e ainda sim sentir o universo se expandindo ou em contração a cada respiração do outro ser, de covinhas ou não.

É uma entrega que almejo.
Porque é bela, mesmo nas horas mais tristes.

E não é limitação. Pra mim isso é ser grande e ser inteiro.É conseguir penetrar a energia de outra pessoa, consubstanciar e sentir, entende?! Sentir é mais poderoso do que resolver.

Tenho dito...

Elga Arantes disse...

Ser mãe é um masoquismo providencial e legalmente necessário.

Mas é lindo, é prazeroso, é único e tudo!

E tenho dito.

rsrs