terça-feira, 18 de setembro de 2012

Carta aberta endereçada a você.

Há males que vêm pra bem. Além desse provébio, tem uma outra frase de não sei quem que diz que em vez de reclamar de algo que não está bom, deve-se aproveitar a dificuldade para crescimento pessoal, evolução espiritual, polidez da moral e coisas do gênero. Então, em tempos de escuridão, resolvi dar uma chance a "iluminada sabedoria facebookiana" e tentar tirar o lado bom dessa fase crítica (e longa) que tenho experimentado.

Fácil! E óbvio. Mel... A doçura que quebra a acidez das dificuldades e o amargo dos obstáculos, tornando meus dias mais agridoces.

Com apenas um emprego e sem ajudante, tenho estado todos dias pela manhã com ela. Acordando-a com beijinhos, fazendo seu café da manhã, orientando nas tarefas da escola, dando banho, fazendo seu almoço... Cuidando dela, literalmente, e não apenas provendo os recursos financeiros para seu bem estar e desenvolvimento físico, moral e intelectual.

Poder ter um plano de saúde é bom! Poder pagar uma escola de qualidade é ótimo! Poder falar não, algumas vezes em que ela pede guloseimas, pensando em sua saúde e não no lado finaceiro é tranquilizador. Mas nada dá a sensação de dever sendo cumprido, como poder ser e estar mãe dela, já que, muitas vezes, somos, por direito, mas não exercemos esse direito - imperialismo dos tempos em que vivemos.

Todas as vezes que passo a escova nos seus cabelos, desembaraçando-os, depois prendendo com um enfeite que eu escolho especialemnte para o "penteado" que estou fazendo, quando passo um protetor solar e depois dou duas borifadas de perfume, em seu pescocinho, tenho a sensação de estar num daqueles comerciais de amaciante que a gente vê na T.V. e inveja as mães que podem cuidar de sua família, deleitando-se de cada detalhe, sendo reconhecida e recompensada por isso.

É muito bom, poder fazer as coisas, sem ser guiada pelo ponteiro dos minutos. Melhor ainda, receber em carinhos por algo que não é mais que minha obrigação. Melhor e surpreendente foi ouvir a Mel dizer, espontaneamente: "Mamãe, vc acha que eu não sei que você pediu para mudar de horário na escola em que você trabalha, pra poder ficar comigo, todos os dias, de manhã?".

Tudo parece ter sido invertido, naquele momento. Eu deixei de receber em reais, para receber em amor. E dos melhores, o incondicional, de uma moeda cunhada pelo laço mais forte que já se teve notícias. Tive que me desfazer de bens materiais, para dar espaço a instantes cruciais que, talvez por escolha minha, eu nunca desfrutaria. 

Estou vivendo uma experiência que, teoricamente, a gente conhece, concorda, discute em mesas de bares e em rodinhas de pais, em encontros festivos da escola, mas que por total falta de vivência prática, não reconhece. É profunda a sapiência dos que alegam que da convivência de qualidade com seus filhos, pode depender a felicidades deles, enquanto crianças, para se tornarem adultos seguros e bem resolvidos.

Quisera eu poder passar tantas privações finaceiras, deixar de ir em tantas festas, não poder planejar viagens de férias, em troca de sentir uma pequenina mão em rosto e uma voz doce como a dona dizendo: "Mamãe, você precisa aprender a acordar mais cedo".

Tem me ensinado, essa pequena!

Esse relato é real! Mas não tem o intuito de expurgo, divã eletrônico, ou coisa parecida. Quero com isso, querida amiga, externar e tentar transmitir a você, algumas das minhas certezas, recicladas pelas novidades atuais e, devo destacar, recorrentes que vivo com a Mel. Disse vivo! Agora, sim, você saberá descrever o significado da palavra viver. E junto com ele, o de plenitude, realização e outros afins.

Stella, não quero que se iluda, acreditando que não sofrerá por amores passionais, que não sentirá falta de outros prazeres, pois somos mulheres e humanas, acima de tudo. Mas saiba, querida, que daqui pra frente, nada será tão crítico, nenhum problema insolúvel, nenhuma dor incurável.

A vida está te apresentado você de novo, renovada, envolta por um pequenino corpo, frágil, mas indiscutivelmente mais poderoso que o seu, posto que guiará seus objetivos, suas mais fortes vontades. Esse ser te dará diariamente esperança e ânimo em doses cavalares de um amor inevitável e você agradecerá a vida todos os dias por essa dependência.

Via Antônio! Viva Mel!

Um comentário:

Michele disse...

Justamente por não ter sido piegas nem por evocar uma amor utópico de propaganda de margarina, esse seu conselho exemplificado foi lindo, Elga.

Stella (que não conheço), eu nunca vivenciei essa experiência, embora acreditre que isso está próximo...
Mas se a Elga tá dizendo, e como tantas dizem por aí, força na peruca e amor avante.

Embora sociólogos, antropólogs, legolandia, digam que não, eis o seu sacerdócio que recompensará suas inevitáveis perdas.

PErgunta pra minha mãe!!

... Melhor não...

Ouça a Elga!

Sopro de Eves!