domingo, 15 de abril de 2012

"Olívia: de volta ao país das maravilhas!"

O que fazer com aquele momento? Congelá-lo no presente, eternizando-o, sem as possíveis máculas que o fariam perder o brilho, ou arriscar-se nas aventuranças do tempo futuro? Quanto ao desconhecido, as possibilidades são inúmeras e interdependentes. Era essa a dúvida da protagonista do filme. No enredo, Olívia acreditava que as pessoas eram uma rede muito complexa e subjetiva de acontecimentos e escolhas e de uma série, ainda menos previsível, de possibilidades físico-biológicas, sócio-econômicas, ambientais e temporais. Todas elas também dependentes uma das outras, posto que, por exemplo, a sanidade física e psíquica de um indivíduo está, de maneira direta ou indireta, subjugada ao ambiente em que vive; ao que sente em relação a tempo como cronologia e como sensação mais subjetiva; a maneira com que conduz os eventos que ocorrem em sua vida; e em como as pessoas ao redor enxergam e reagem à suas opiniões e atitudes em relação a todas as coisas.

Estava convicta de que ela era uma mistura tão grande de fatores, que nunca saberia com certeza quem realmente era. Sabia que talvez, em algum momento, outras pessoas pudessem acreditar serem capazes de se auto-definirem, de maneira infalível. Até que um dia se deparariam com uma inquietação que, por vezes, não saberiam identificar e, muitas outras vezes, nunca descobririam ser apenas (mas não simplesmente) a certeza absolutamente indiscutível de não saberem quem são exatamente. De no fundo mais secreto e genuíno dos seus seres saberem que não poderiam apostar uma única moeda em um si mesmas, ou na certeza de saberem qual seriam suas atitudes em vários momentos de suas trajetórias. Compreendia que por serem, os seres humanos, tão eficientes na arte da especulação e do julgamento, usavam tais faculdades como ferramenta para o autoconhecimento. Esqueciam-se, porém, que, por serem tais talentos uma conjetura do futuro, não passavam de meras hipóteses. E as hipóteses dependiam de uma série de fatores que, por sua vez, dependiam de outros tantos fatores dinâmicos, que, exatamente por estarem condicionados, nunca seriam os mesmos. O que fazia com que as pessoas nunca fossem as mesmas também.

Por tudo isso, acreditava que não fosse possível que as pessoas soubessem com exatidão quem eram, nem mesmo em um momento presente bem delimitado, como numa fração de segundos, ou numa parte menor dele, porque ele já se teria passado. Porque enquanto o momento se estabelece, alguém lhe faz uma pergunta, você ouve um som que vem da rua, alguém te telefona, você sente uma dor de cabeça ou uma fincada no peito, lembra que precisa fazer alguma coisa, e, então, já não é mais a mesma pessoa. Porque todos são essa bagagem infinita que vão acumulando, ao longo do tempo.

A incerteza sobre as decisões a tomar, torna-se, muitas vezes, um golpe de sorte, apenas, e quase nada teria a ver com moralidade, valores ou em seguir, ou não, o caminho do bem. Tomar decisões, nesse ponto de vista, seria como escolher investir seu dinheiro em um fundo conservador ou agressivo e torcer para que o mercado financeiro reaja de acordo com o que a pessoa apostou. Escolher um fundo conservador, assim como decidir congelar o presente, daria, assim, a certeza de um determinado ganho. Por outro lado, optar pelo investimento de risco agressivo, ou aventurar se na imprevisibilidade do porvir podem trazer, pelo menos, duas possibilidades como resultado: ganhos muito maiores ou a perda de todo seu capital; social, cultural e emocional, cada um no seu contexto.

Especificamente no seu contexto, pensou que suas dúvidas pudessem vir do medo de um desapontamento pseudo-inconsciente, mas obviamente realizável. A ideia de impedir que o brilho daquele momento se apagasse poderia ser também um medo de que o outro escolhesse por ela, fazendo com que ela se submetesse à vontades alheias, mais uma vez. Seria uma forma de defesa? Uma intuição? Uma vaidade infantil?

Olívia percebeu que no fim de suas explanações sempre se deparava com perguntas daquele gênero. E todos aqueles questionamentos poderiam ser traduzidos em um só: “Quem ela era?”.

Quase exaurida, Olívia, teve ânimo para uma nova reflexão. “Quem sabe todas as perguntas não seriam mais uma maneira sórdida de articular sua tentativa em adivinhar o futuro? Mas como aquilo também era uma pergunta, preferiu ficar com a primeira e decidir pela sorte. Jogou uma moeda para o alto e, enquanto esta rodava no ar, torceu para que desse cara e sua história cinematográfica tivesse um final surpreendentemente feliz.

Alice, por sua vez, ao desligar o aparelho de DVD, pensou que não se parecia em nada com a “mocinha” da película. Lembrou que a arte imita a vida, mas se esqueceu que o contrário também acontecia.

Talvez ela devesse ver o filme mais uma vez. Se der cara, ela aperta o "replay", se der coroa, ela desliga o aparelho e vai ler um livro. Mas não vai fazer resenha.



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