sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"Eu escrevo sobre o que não conheço."

Tem algumas coisas me incomodando há algum tempo. Algumas há algum curto tempo, de maneira latente, outras há mais tempo, de maneira latente. Em mim, tudo é latente, inebriante. Tanto o bom, quanto o ruim. Mas é a intensidade do neutro que me perturba, mesmo. A espera, a dúvida, a improdutividade e tudo mais que me paralisa. E o que me paralisa, me perturba, e a perturbação já é uma tentativa de movimento. Mas é a saída que não explode. Não a saída como sair de cena, finalizar, nem como a solução. A saída. O início. A largada... de quem não quer largar. De quem não quer soltar. Foi nesse ponto que descobri que me conheço bem. Já que sei o que me faz bem e, por isso, não quero soltar. Ou não quero soltar porque tenho medo de ver que nada do que pensava era mesmo o que pensava e que, na verdade, só acho que me conheço. E foi nesse ponto, imediatamente posterior àquele mencionado, logo ali, que descobri que não me conheço.

Foi aí que uma visita a endocrinologista mudou tudo. A médica me indagou se não tenho tido acessos de desânimo físico ou psicológico e que permeavam a sensibilidade profunda (o que interpretei como depressão). Se não estava percebendo meu raciocínio mais lento. Respondi que sim e não. Sim, para acessos de desânimo físico e psicológico. E não para a proximidade com a sensibilidade profunda, (meu) vulgo depressão. Sim para raciocínio lento - mencionado por pessoa muito próxima. “Isso é câncer?”. Foi por causa dessa pergunta que, então, finalmente resolvi escrever hoje. Mas sou da opinião de que a gente sempre escreve sugestionada. No meu caso, a sugestão real foi o texto de um blogueiro que adoro ler chamado Paulo Bono. Em um determinado ponto do seu texto, ele diz que toda dor que sente pensa ser câncer. Eu também. Morro de medo de câncer e morro de medo de que meu medo não seja medo e sim premonição. Enfim, a médica achou graça da pergunta, disse que não era câncer e que, pelos exames, eu só estava tomando a dosagem errada de hormônio tiroidiano que meu organismo precisava para o metabolismo corporal adequado. Uma semana depois já me sinto menos estática, já querendo mover meus dedos e meus medos novamente. Começando sempre aqui. Que é para tentar colocar meus pensamentos em ordem e deles tirar alguma conclusão.


E é aqui, possível leitor, que senti uma inveja danada de Charlie Kaufman e Paulo Bono. Este só reclama que é careca e gordo, mas ele sabe quem ele é, assim como seu ídolo. Aliás, foi por causa do tal Kaufman e de sua afirmação de que ele escreve sobre ele mesmo porque ele só escreve sobre o que conhece bem, que Bono resolveu escrever também.


Então, tentei me consolar forçando a barra para me incluir: eu me conheço bem, porque sei que não me conheço bem. E a não ser que que eu não conheça nem a ideia do que seja um ser humano, desconfio que eles podem estar enganados, também.

Resumindo, todo mundo se acha melhor que os outros em alguma coisa: Kaufman acha que é bom em falar dele mesmo, Bono acha que é melhor para criticar filmes e eu acho que sou melhor em crer que coloco dúvida na certeza dos outros. E na minha também, claro!

***Gostaria de saber se Charlie Kaufman tem medo de câncer.

Por Elga Arantes, 2012.

2 comentários:

Elga Arantes disse...

Bom, Kawanami. Gosto de ler suas observações. Mas confesso mais insegura pra escrever, nos últimos tempos. Mistura de covardia e vaidade de quem tem aprendido mais com o passar do tempo. É mesmo um câncer, não é?

Pois que percebi que a mazela tem me perseguido, ou eu a ela, nos útimos textos. Premonição? Por falar nisso, obrigada pelo toque.


Um abraço.

Paulo Bono disse...

Elga,
É bom também não pensar tanto.
Dizem que isso evita câncer.

abraço