sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Redondamente desenganada


Ela sentia raiva de não sentir raiva daquilo. E muita tristeza por estar apenas, e tão, triste!

Espantava-se por perceber que a tristeza mal raciocinada pode se transformar em ignorância (burrice mesmo). E a ignorância, quando dá a cara para bater, mostrando a outra face já rubra de vergonha, vira rótulo. E, depois, sobrenome.

Não sabia ver o tempo passar sem segui-lo. O tempo, por sê-lo, não precisava de dose a mais dele mesmo. Desnecessário. Dar tempo ao tempo era só uma frase de (pouco) efeito para ela. Queriam ficar juntos novamente. Assim, não entendia no que seria eficiente deixar que o tempo passasse, um longe do outro, para que pudessem estar juntos logo mais adiante. O exercício de se estar sozinha, distante, serviria de prática para o estar juntos?Não podia compreender.

Depois, lembrou que todo esse esforço para concatenar suas ideias, naquele caso, era descabido - dizia a sociedade imperativa com suas lições apostiladas em páginas de senso comum e experiências alheias. Poderia, pensando assim, inovar. Ela nunca se sentiu igual ou comum mesmo. Mas, naquele momento, sendo ela a protagonista, o diferente e inusitado seria recuar, desistir, não fazer e ceder as probabilidades. Era percentualmente mais seguro.

Amante das coisas do homem como ser e admiradora da humanidade, no que tange o que ela deveria ser por definição, talvez pensasse algo menos exato e mais subjetivo para se aliviar quando uma dor mais imprecisa a afetasse. Mas torcia pelo contrário.

Porque ser ela mesma parecia tão exaustivo, agora! Ser ela mesma, para ela e para o resto do mundo, tão desafiador! Desafios desprendiam energia demais. E ela começava a sentir o peso dos anos de sua existência surtindo efeitos em sua coluna emocional e em sua crenças tão vertebralmente consolidadas. Também chamavam isso de tristeza...

Pessoas também são círculos viciosos. O mundo é mesmo redondo. Por isso, anda em círculos e insiste em fechar esse ciclo primeiro. Para que, contraditoriamente, nada da família das circunferências venha, de novo, ser instrumento de representação do que nomeia relação: vulgo amor.

3 comentários:

Anônimo disse...

Isso podia tanto ser pra mim!

Daniel Savio disse...

Mas mesmo sendo circulos viciosos ainda pode se lutar para que seja o melhor deles...

Fique com Deus, menina Elga Arantes.
Um abraço.

Cristiane Madureira disse...

E finalmente se não nos rendemos ao simples fato de que o amor existe e nem sempre a razão é forte o suficiente para combatê-lo a vida se encarrega, de alguma forma, de retirar a cegueira do orgulho e nos devolver a lucidez.

Espero que esteja bem minha amiga... e lute sempre pela sua felicidade! Se vc não se responsabilizar por ela a vida pode trazer outras surpresas e é melhor não arriscar, rsrsrs. Bjs