Ela olhou, sem fitar, o metrô ir e voltar. E ir, mais uma vez. Até pensou, por poucos instantes, em quatro ou cinco das tantas estações em que ele passaria. Nomes de flores, de santos. Depois, fechou os olhos e retornou ao estado de desespírito. Queria a certeza da posse, mesmo que a propriedade fosse a dúvida que qualificava como efêmera, essa intenção. Alguém celebrou com palavras o medo que ela tinha de descobrir que não tinha nada, além do que não foi conquistado por ela. Uma bênção é mais sorte que merecimento, concluíra a poucos dias. Não queria o clichê de vislumbrar o ponto de luz se aproximando progressiva e sincronicamente à evolução do barulho que fazia o monstro de lata retornando, de novo, e, por isso, fechou os olhos de maneira cinematográfica. Deu dois passos à frente. Abriu os olhos para conferir a linha amarela que separava seu estado de confusão mental e depressão espiritual, do estado de nada; do não-estado; do não estar. Iria mergulhar no vão. E foi assim que agregou mais uma dúvida a sua coleção de exemplares genuínos. Não sabia mais se havia sido feliz, tido amigos verdadeiros, forjado a verdade naquela vez, ou vivido a mentira na íntegra: Coleção da versão passado. No presente, queria o presente da certeza que aquele vão não era dúvida - Pensou em reformular o argumento porque pensava que as duas ideias não podiam coexistir, nem na mesma frase - O presente de um futuro que nunca existiria. Futuro metafísico. Mas calculou mal o tempo e a coragem. O metrô passou. Perdera o bonde, mais uma vez; como era comum acontecer na vida que não era dela. Voltou pra casa que morava de favor, dentro de um corpo que (não) possuía, por acaso. Ofereceu a quem, de direito, que, sentindo o cheiro agridoce do sangue que vinha dele, recusou. A alma, que só não fora vendida porque também não lhe pertencia, ficara naqueles trilhos, estraçalhada por um evento intencional privado de sentido.
... E seu corpo teria que trilhar novas estações. Com nomes de flores e nenhum nome de santo. De etéreo, desejava apenas um final digno e que lhe pertencesse.
Por Elga Arantes, 2010.
9 comentários:
Às vezes, acho que os textos não são seus. Vc na vida real não é tão assim né? Complexa... se bem que é. kkkkkk
É por essas e por (tantas)outras que venho aqui. Venho pra ver a tua volúpia em se desfazer pra se perceber.
Frases como essa: "E foi assim que agregou mais uma dúvida a sua coleção de exemplares genuínos" ... acabam confirmando minhas impressões sobre ti: ADORÁVEL!
Tu és uma escritora ... das mais talentosas!
Muitas saudades, minha querida.
Um grande beijo,
Sininho.
Amiga do meu coração. Queria te ligar para desejar um feliz aniversário e ouvir a sua voz mas não tenho seus telefones neste aparelho. Se ver este msg hoje e puder me ligar só dando um toque para que eu te ligue de volta ficaria mto feliz!
Um grande beijo.
Adorável ... te disse lá no mundo dos iogurtes sobre o quanto é especial te ter por perto. Mesmo que esse perto não seja o ideal.
Te desejei lá todos os meus melhores desejos:
Que seja um lindo Ano Novo: que tenhas saúde, amor e arte.
Adoro-te,
Um beijo cheio de carinho,
Bel.
Kawanami, não tô sofrendo, não. Quem te enganou? É nisso que dá servir o exército... Quer dizer que homem não sofre? Ahhh! Então é por isso que minha vida é uma festa. De Baco!!!
Bel, escritora... quem me dera! Vc, é vezes mais adorável!Vou lá, agora, então!!!!
Karen, pois é, vi tarde. Mas respondi seu email. Em agosto, acho que nos veremos. Ebaaaa!!!
"sério" o quê?
Un saludo desde Rumania!
Daniel D. Peaceman, escritor y editor
Por vezes, sinto-me num corpo que parece não ser meu. Por vezes, sinto-me presa nesse corpo. Por vezes, sinto-me no estado do nao estar. Assim, viajo...
Bjs.
Noooossa!! Adorei passar por aqui... vou voltar mais vezes, com certeza!
Bjão e ótimo domingo
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