Área hospitalar. 14h. Sol escaldante, gente, carros, gente doente, fumaça, gente feia, buzina, gente ? (aquilo é mesmo gente???), uma nuvem carregada se aproximando e uma senhora. Idosa, obesa, de muletas e parecia ter uma deficiência visual. Estava de pé, meio curvada, falando qualquer coisa com o motorista do táxi que estava parado na esquina, aguardando uma oportunidade de entrar na avenida principal. E foi quando os outros carros de trás buzinaram exigindo que o táxi desobstruísse a via, que pensei que, se não estivesse tão atrasada, poderia ajudar. Mas já eram 14 horas mais dez minutos; os dez de atraso para o horário marcado com a Lili.
O taxista se esticou todo dentro do carro para abrir a porta do lado do passageiro, como que para ajudar a senhora idosa, obesa, cega e de muletas a entrar no táxi. Já ia andando a alguns metros pela cena descrita, quando hesitei. Não podia achar que a aniquilação de meus pelos pubianos fosse mais importante que o bem estar de uma senhora idosa, obesa, cega e de muletas.
Enquanto me aproximava da senhora, senti qualquer coisa parecida com acanhamento. Mas claro que isso não podia ser. Cheguei bem perto da idosa, obesa, cega e de muletas e disse: “Posso ajudar a senhora?”. Ela continuou a perguntar ao motorista sobre um endereço que ela dizia estar anotado em um dos vários papéis que ela levava, desorganizadamente nas mãos, sem me responder. Certamente não ouviu, acreditei. Olhei para o motorista do táxi como quem pergunta se precisa de ajuda e ele sorriu, num consentimento. Então, com mais liberdade, disse a senhora idosa, obesa, cega e de muletas que iria ajudá-la, lendo para o motorista o endereço que ela procurava, mas ela me interrompeu bruscamente: “Arreda, arreda... pode parar! Esses papéis aqui não podem rasgar, nem amassar...sai, sai, sai...Que chatice! Sai fora”. O taxista teve vergonha alheia nessa hora, tenho certeza! Me olhou com cara de desculpas.
Deixei pra lá aquela velha caquética, balofuda, cegueta e coxa, pensando: “Tomar no meu cu, viu!!!” Agora sei que aquela sensação estranha que senti, quando acreditava estar iniciando minha boa ação do dia, era presságio.
E como nada é tão ruim que não possa piorar, tive que ouvir a colega politicamente correta na hora errada dizer que tenho que relevar, pois não conheço a trajetória de vida daquela mulher; que ela pode ter sido passada para trás por alguma pessoa estranha, que ela pode não ter tido a instrução necessária para ter reações educadas; que ela podia estar sentindo dores e dificuldades físicas que a fizeram perder a paciência; que o homem é um ser social muito complexo para se julgado por uma única atitude, blá, blá, blá. “Tomar no meu cu 2, viu!!!”. Agora um sermão de fim de expediente, sem almoço, toda cozida e cansada. Esse era o meu contexto. Bom, pelo menos eu estava depilada.
A noite, já estava me sentido leve. Primeiro, por ter feito minha parte no episódio com a velha coroca, gorducha, cegueta e mangueba; depois, por ter me depilado. Ahhhhh... Nada como consciência e virilhas leves!!!!
Por Elga Arantes, 2009.
O taxista se esticou todo dentro do carro para abrir a porta do lado do passageiro, como que para ajudar a senhora idosa, obesa, cega e de muletas a entrar no táxi. Já ia andando a alguns metros pela cena descrita, quando hesitei. Não podia achar que a aniquilação de meus pelos pubianos fosse mais importante que o bem estar de uma senhora idosa, obesa, cega e de muletas.
Enquanto me aproximava da senhora, senti qualquer coisa parecida com acanhamento. Mas claro que isso não podia ser. Cheguei bem perto da idosa, obesa, cega e de muletas e disse: “Posso ajudar a senhora?”. Ela continuou a perguntar ao motorista sobre um endereço que ela dizia estar anotado em um dos vários papéis que ela levava, desorganizadamente nas mãos, sem me responder. Certamente não ouviu, acreditei. Olhei para o motorista do táxi como quem pergunta se precisa de ajuda e ele sorriu, num consentimento. Então, com mais liberdade, disse a senhora idosa, obesa, cega e de muletas que iria ajudá-la, lendo para o motorista o endereço que ela procurava, mas ela me interrompeu bruscamente: “Arreda, arreda... pode parar! Esses papéis aqui não podem rasgar, nem amassar...sai, sai, sai...Que chatice! Sai fora”. O taxista teve vergonha alheia nessa hora, tenho certeza! Me olhou com cara de desculpas.
Deixei pra lá aquela velha caquética, balofuda, cegueta e coxa, pensando: “Tomar no meu cu, viu!!!” Agora sei que aquela sensação estranha que senti, quando acreditava estar iniciando minha boa ação do dia, era presságio.
E como nada é tão ruim que não possa piorar, tive que ouvir a colega politicamente correta na hora errada dizer que tenho que relevar, pois não conheço a trajetória de vida daquela mulher; que ela pode ter sido passada para trás por alguma pessoa estranha, que ela pode não ter tido a instrução necessária para ter reações educadas; que ela podia estar sentindo dores e dificuldades físicas que a fizeram perder a paciência; que o homem é um ser social muito complexo para se julgado por uma única atitude, blá, blá, blá. “Tomar no meu cu 2, viu!!!”. Agora um sermão de fim de expediente, sem almoço, toda cozida e cansada. Esse era o meu contexto. Bom, pelo menos eu estava depilada.
A noite, já estava me sentido leve. Primeiro, por ter feito minha parte no episódio com a velha coroca, gorducha, cegueta e mangueba; depois, por ter me depilado. Ahhhhh... Nada como consciência e virilhas leves!!!!
Por Elga Arantes, 2009.
14 comentários:
Adorável,
Na maioria da vezes o mundo não nos merece. Não te merece. Compreendo bem a inversão dos adjetivos destinados à ela. Compreendo bem a revolta: alta. A auto-compaixão poderia ser alento, mas se assim fosse não sobraria esse teu alimento. Tu és uma coisa mesmo! Compreendo bem o alívio imediato: tanto da compaixão excercida quanto da depilação prorrogada. Ai! Em situações como essas nos perguntamos porque demoramos tanto? Há explicação ... sei que sabes que há.
Adorei o texto ... tu és multifacetada mesmo.
Querida ... respondi teu comentário do post anterior no meu mundo de flutuações (adorei mais isso que me ensinastes). Inspirada em ti fiz um textinho...
Muitos beijos,
Muita admiração,
Imenso carinho
Sininho
Passei aqui, li, gostei. Que texto, hein?
Abraço.
Nem sempre é gratificante ajudar as pessoas, especialmente nesses casos. Mesmo esta mulher, com todas as suas dificuldades físicas e subtrações educacionais, deveria ser mais grata a você.
Um foda-se pra ela não cairia mal!
Beijos e até, LINDA!
Sim, uma coisa que nunca perguntei: de onde você é? De canto desse Brasil?
Beijão!
Ai Elga, quem é esse Marcos? Acho ele um chato.
Sempre faz comentários com um tom de superioridade.
Blurg!!!
Ah tá! O colega (chato) politicamente correto na hora errada era esse Marcos aí? Pelo menos ele é feliz por ser (falso moralista) católico!
Bel, na hora, minha raiva era absoluta. Depois, como tudo, percebi que era relativa. Mas quis fazer o texto como pensei na hora que levei um fora. O que tinha de mais legal era a inversão dos predicados, imagina?! Rs...
Marcos, então, foi o que disse pra Bel, fiquei putíssima, na hora, mas depois só putinha, kkk. Não que dê razão a ela, só não tiro a minha, sabe? Ela tb me julgou: uma chata, incoveniente, aproveitadora, sei lá, o que ela pensou. Senão, tinha aceitado minha ajuda, ou dispensado, agradecida.
Eduardo, obrigada pela presença. Aqui, não consigo entrar na sua casa pelo link que manda via email. Acabo tendo que ir por outro caminho.
Sandro Alessandro (aháá!), tb tenho uma amigão Alessandro que chamam de Sandro (?). Eu o chamo de Alê...Sou de Belzonte, uai!!!
Anônimo (só pras suas negas, sei bem quem é!) e Rafael, ele não é, não. É inteligente e muuuuito engraçado. Cada um dá sua opinião, né não?
Galera, hj, pra mim, a velha é apenas uma coitada mal educada. Só não sei se isso é melhor ou pior que idosa, obesa, cegueta e coxa...
Beijos, ótimo feri.... uhhhhuuuu!!!
kkkkk!!
Eu ri alto aqui com a gradação dos adjetivos
velocidade 1:Idosa, obesa, de muletas e parecia ter uma deficiência visual
velocidade 2:idosa, obesa, cega e de muletas
velocidade 3:idosa, obesa, cega e de muletas (você começou a repetir...!)
velocidade 4:caquética, balofuda, cegueta e coxa. kkkkkkk
velocidade 5:velha coroca, gorducha, cegueta e mangueba. kkk
Ainda bem que você se depilou!!
***
Ow,esse Marcos é muito engraçado.
Teve um dia que ele citou a Vovó Mafalda!!
No post abaixo, ele disse "ai que raiva"!!! Lembrando do comentário da vó!
E agora ele escreveu aqui: ali viado!! kkkk
tô rindo de você e dele!!Kkkk
Quem é que ri de kkk na vida?
Não´, acho muito melhor meu velho hahahahahaha!!!
Ohhh!!! Didi Mocó tá louco ali hein!
hehehe
Mi, sempre passo mal com os comentários dele, tb. São os melhores. Falei isso no blog dele.
Ôw, e o tanto que eu ri, comentei exatamente isso: "ai, que raiva".kkk
Ah!Só para constar, eu rio kkk, vc vai ver.
A desforra dele foi inteligente e engraçada. Teve a manha.
Beijos.
quem mandou eu falar mal do Kkkkkk!!!
Ah, se é gargalhada,até mesmo se a gente combinar que jjjjjjjj é gargalhada, então tá valendo!!
Até porque ninguém nunca chegou num consenso sobre como escrever beijo! É qq coisa, menos smack!
****
Eu tô feliz porque já plantei uma árvore e acabei de parir um livro!!
(Era pra ser só uma monografia,mas eu me envolvi com o tema demais!)
Agora só falta trabalhar pra conseguir mostrar meu filho pro mundo!!!
É sobre crime e loucura!
Ow, tô dando pulos!!!
Agora falta um filho...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Que horror amiga! Bendita a frase que diz que devemos ajudar quem quer ser ajudado...pena que a velha num tinha plaquinha sinalizando a grosseira que era. Tô P da vida por vc e acabo de fazer contato com minha virilha! kkkk
Adiante, amiga!!!
Beijo
Ow, engraçado demais, iria rir muito se estivesse com você.
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