terça-feira, 23 de junho de 2009

Constância Aparecida

Se alguém me perguntava se eu ia trabalhar de carro, respondia: "Vou de ônibus. É que tive que vender meu carro quando me casei”. Se perguntavam quanto tempo tinha de formada, defendia-me: "Demorei a me formar porque sofri um acidente que adiou meus planos". Se indagavam quem foi que bateu o martelo para o fim do meu casamento, explicava: “Foi ele quem não quis mais. Mas, apesar de ele já ter me procurado depois, hoje vejo que a separação foi a opção mais acertada”. Se alguém fazia cara de desprezo quando eu respondia ter feito pedagogia, logo justificava: “Comecei a fazer quatro cursos antes de ter coragem de assumir que queria mesmo era fazer pedagogia”.

Esta última resposta era a pior, porque fazia um estrago enorme com uma resposta burra e egoísta. Egoísta porque só estava mesmo pensando em mim, quando tentava justificar qualquer dúvida que pudesse surgir a respeito da minha capacidade intelectual, contando que passei em vários vestibulares e que não foi por falta de competência que não escolhi outro curso. Burra, já que, ao invés de ajudar a combater o preconceito com o curso e o estigma da profissão de educador, acabava fazendo justamente o contrário, ajudando na desvalorização dos profissionais da área.

A negação da recusa do outro, o medo de parecer incompetente, a vontade de se mostrar especial... Orgulho? Vaidade? Soberba? Primeiro, o reconhecimento da pouca nobreza. Depois, a proposta íntima da mudança de hábitos e de atitudes. O desejo de ser alguém melhor para mim e para o resto do mundo. O peito aquecido, o brio frouxo e um apreço adequado por mim mesma.

Mais tarde, quase desisti. Pensei em não publicar esse texto, caro leitor. Tive medo que alguém comentasse (publicamente ou não) algo do tipo: “Forma inteligente de autopromoção. Você se faz de humilde e, pelo tom autopunitivo, ninguém percebe o objetivo maior do desabafo.” Indo mais além, alguém, ainda, poderia pensar que até essa simulação de comentário seria uma estratégia de parecer menos e aparecer mais. E, seguindo essa linha de raciocínio, isso não teria fim.

Mas querem saber? É o risco que se corre quem torna públicos seus devaneios. A gente pode parecer muito inteligente, muito inseguro, muito arrogante, muito carente ou, simplesmente, muito GENTE! É, gente, porque a gente é assim; porque gente é assim; até o agente é assim. Ou não!

Fato é que, incompetência, fatalidade ou falta de talento, é a vida que tenho. Sou eu e como estou, no momento. Até a sorte, ou a falta dela, me pertence, e, sendo assim, devo assumir a MINHA falta de sorte – nos casos em que imagino ser ela a responsável por algo que me ocorreu.

Noves fora, zero: zero mesmo. Volto a estaca zero. E isso quer dizer, devo explicar, que tal desafogo não é garantia de que amanhã não dê as mesmas respostas mascaradas às perguntas que me fizerem. Porque eu posso ter muitas dúvidas a meu respeito; posso me estranhar, de vez em quando (ou na maioria dos dias); posso não saber me descrever e nem mesmo ter a certeza de ser uma boa ou uma má pessoa. Mas não duvidem de uma coisa: sou uma pessoa inconstante. Em alguns aspectos... Em outros, não. Nestes outros, só um pouquinho... Às vezes. Ou não... Dependendo da situação. Ou da cor da saia que estou usando. Mas eu nem uso saias... Geralmente, não. Curtas. Longas, sim.

Eu poderia me chamar Aparecida. Constância, não!

“... o ser humano é contraditório. Um punhado de bem, um punhado de mal. É só misturar com água.” (Zusak, Markus, 2007)

Por Elga Arantes, 2009.

4 comentários:

Anônimo disse...

É orgulho, vaidade e soberba, sim. Mas é também coragem, sinceridade e humanidade. Você também é muito alegre, fiel, perseverante. Algumas vezes teimosa e insistente - vem de brinde, no pacote.

Quando li "Poderia me chamar Aparecida, Constância, não", pensei que significado teria seu nome. Olha o que achei:

"Muita inteligencia e poder de comunicação, apontam para sua necessidade de falar, embora nem sempre diga tudo o que lhe vem à cabeça. Se enfurece quando é desmentido ou contrariado. Sempre pensa muito, e isso interfere na concentração do que está fazendo. Pode vir a ser um excelente escritor, advogado ou professor. Mas para isso deve aprender a controlar seu nervosismo e se observar para não virar um tagarela.

Estar sempre envolvida com diversas coisas ao mesmo tempo, é uma constante na vida desta personalidade aventureira muito curiosa, impaciente e dinamica. Foge sempre da rotina buscando inovação, por isso tendem a acha-la excitante e imprevisivel. Relaciona-se muito bem com todos e não dispensa uma boa conversa. A melhor forma de estar sempre aproveitando o lado positivo desta vibração é buscar concentrar-se no que faz e uma coisa a cada vez, para não dispersar seu foco e gastar energia à toa. Buscar ser mais paciente e equilibrar seu magnetismo e sensualidade.

Sempre em busca do saber e da verdade, é alguém cujas coisas do espirito e do "eu" interior fazem muita importância na vida, por isso é estudioso, gosta de filosofia e pesquisas. Estuda para provar e obter respostas sobre o desconhecido. Por ser um tanto solitário as pessoas o consideram distante e estranho mas é difícil não notar sua presença, pois possui um refinamento inigualável. Procura viver de acordo com suas experiências e descobertas e não conforme padrões pré estabelecidos. Não se atrai por agitos e modismos, considera isso como coisas descartéveis. Prefere atividades que não envolvam esforço fisico, ou mesmo com máquinas. Tem forte tendência para ser um educador, advogado, cientista, banqueiro, corretor, contador, tecelão, relojoeiro, inventor, escritor de temas técnicos, científicos ou filosóficos, editor, autoridade em religião, naturalista, astrônomo ou metafísico. Precisa ficar atento aos aspectos negativos, como impaciência, e avareza, consumo de bebida e a tedência à indiferença."

Perfeito! Você tinha mesmo que se chamar Elga.

Como sei que a curiosidade é também uma forte característica em vc, vou te torturar.

(Um traço forte na minha é a crueldade! Mas, mesmo assim, devo confessar que amo você)

Elga Arantes disse...

Concordo; com quase tudo - senão, não seria eu.

Queria mesmo, e tanto, saber quem és! Gosto de saber quem são as pessoas a quem despertei o sentimento mais cobiçado e fundamental na vida de todas as pessoas no mundo.

Sobre minha curiosidade, tenho aprendido a domá-la. Às vezes, consigo. É que tem um anônimo (que acredito, por motivos óbvios, ser outro, diferente de vc)que me fez sentir uma curiosidade mórbida, algumas vezes. Isso me fez aprender.

Já sou professora e, até, um pouco escritora. Advogada, só do Diabo. Agora, banqueira, acho bem difícil. Pra não dizer impossível. Porque, se dissesse, também não seria eu.

Obrigada pelo comentário.

sblogonoff café disse...

Ei.
Sabe, acho bom não se sentir mal por mascarar suas respostas. É raro alguém que não faça isso. Eu faço e atribuo à minha vaidade, que também é camuflada. Se você conhecer, verá como sou bem simples por fora. Mas se conseguir me enxergar, verá os complexos mecanismos que a vaidade tem ue fazem as respostas saírem assim da gente. Fruto do nosso instinto de conservação.
Mas sabe, já é muito assumir isso.
A gente tá aqui na Terr, estamos na luta, e o bem e o mal pode ser uma questão de ponto de vista.
Somos assim, misturados com água!rs
Olha só, você tem até anônimos fazendo seu mapa astral, tem pessoas que te amam, apesar das respostas (!) e esa é a graça de seguir, não é não?!
Ser incompleto, mas fazer idéia da peça que falta e busca-la.
Hoje é um dia em que eu queiria ir na sua porta pr apedir açúcar!

Fabiana disse...

Elga, seu blog é demais. Prende a gente. Entrei e não consegui parar de ler. A Aline me passou o endereço. Vou ser leitora. Não sabia que tinha esse dom maravilhoso com as palavras. Parabéns!!!!!!!!