domingo, 29 de março de 2009

Tudo depende do ponto de vista.


- Ai, meu Deus !!!

Foi o que ela gritou ao ser lançada a uns trezentos metros de distância e a uma altura que não me atrevo a dizer nada com exatidão maior que “como nos filmes de Hollywood”. A voz dele, só ouvi ao perguntar como ele estava se sentindo:

- Porque você não buzinou ???

Ou, na minha interpretação: “Machuquei. Mas estou vivo e consciente o bastante para chamar sua atenção”. Isso me fez acabar com a bobagem de duvidar da existência de Deus, de uma vez por todas. Porque foi a partir daí que agradeci ao ser supremo por aqueles dois estarem vivos. “Pelo menos até aquele momento”, pensei. E como minha mente é fértil para tudo, e realista demais até nos delírios, lembrei de dois amigos que perdi por se recusarem a ir para o hospital, depois de um acidente de carro. Nos dois casos, ao chegarem a casa, visivelmente bem, passaram mal em virtude de uma hemorragia interna. Cássio morreu já no hospital. Trololó, coitado, foi traído por sua valentia inútil e morreu ainda em casa. E foi pensando nisso que conversei com Deus, assim, bem informalmente, durante a mais de uma hora que o SAMU demorou até chegar ao local do acidente. Primeiro, me desculpei por minha temporária incredulidade; em seguida, pedi, sinceramente, que permitisse que aquele casal continuasse, apenas, como vítimas de minha ignorância (preciso dizer que não sabia que a manobra que fazia era proibida) e não se tornassem vítimas fatais.

Na hora, não, mas depois, já em casa (Não na minha. Não tive condições, nem vontade de voltar para minha casa) é que fui pensar na represália travestida de pergunta que sofri por parte do motorista da moto. “Se ele tivesse com os faróis acesos, me dando chances de avistá-lo, talvez, pudesse ter buzinado. E de que adiantaria buzinar para um veículo a mais de cem quilômetros por hora?”. Mas de nada adiantaria chegar a tal conclusão naquele momento. A não ser pela resposta que me deixaria menos sem graça no meio da aglomeração de pessoas que se formou em menos de dois minutos.

Além disso, o livrinho de regras de circulação no trânsito já havia proferido minha sentença. Não minha “máxima culpa”, como se diz na oração católica da Confissão, posto a parcela de imprudência do motoqueiro, mas, mesmo assim, oficialmente, minha culpa. Também, não quero omitir minha suposição construída mesmo ainda no local da colisão de que, mesmo que soubesse não ser permitido convergir à esquerda em uma avenida de mão dupla, onde a faixa é contínua, eu teria feito, assim mesmo. E foi por isso que não me senti, assim, tão injustiçada. E foi por isso, também, que parei de reclamar minha própria sorte – para não usar o antônimo desta e atrair mais uma dose dela na minha vida. Mas, ainda assim, parei de me sentir envergonhada e de me martirizar por não saber sobre uma regra de trânsito, pelo visto, tão básica. Não sabia mesmo e ponto final.

Hoje, falando ao telefone com um amigo, ouvi-lo dizer que se não fossem os dois capacetes terem estragado tanto, meu prejuízo financeiro seria menor, pelo menos, uns trezentos reais, já que cada capacete custa mais ou menos cento e cinqüenta. Ele soube disso pela marca das armaduras. Eu concluí que o prejuízo financeiro é bem melhor que o moral. Se não fossem os protetores que eles usavam, poderia estar carregando uma bigorna de uma tonelada na consciência e o peso de duas mortes nas costas. Respondi:

- Antes o capacete que a cabeça deles, né, amigão?!

E ele, concordando, arrematou:

- Pensando bem, até você teve sorte!

Por Elga Arantes, 2009.

10 comentários:

Anônimo disse...

Ow, isso é sério????

Léo

Sheyla disse...

Que susto, heim?
Todos estão bem?
Bjs.

Paty disse...

Pois é, menina, fiquei sabendo!!!
Que barra!!!
Mas no fim da-se um jeitinho em tudo. E como vc mesmo disse, antes o capacete do que a cabeça deles.
Se precisar, estarei aqui.
Kisses.

Bel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bel disse...

Adorável?

Tua veia ficcional não nos levaria tão longe, não é? Jura que passastes por essa tormenta toda?
E como estás agora? O que me aliviou foi saber que te (re)ligastes. E as outras pessoas? Foram mais 2?
Puxa vida ... que experiência triste ... mas a dor sempre ensina mais que a alegria. Infelizmente.
Espero que estejas bem ... que tudo vá se aliviando rapidamente.
Mande mais notícias tuas, minha adorável.
Farei uma linda oração pra agradecer o susto. Somente um susto, não é?
Estou por aqui ...viu?

Beijos ...

Sininho

sblogonoff café disse...

Mulher, que situação!
Ainda bem que todos sobreviveram e ainda bem que usavam capacete. A mão que proteje as cabeças é a mesma mão que balança o berço!! (não era bem isso que eu queria dizer, mas é que já passa da meia noite!)
Pra cada motivo bobo que tenho pra desconfiar, tenho outros mil motivos pra aumentar minha fé.
Na dúvida (hehe), confie!

Saudades, moça!
Já tô em MG!

Elga Arantes disse...

Minhas queridas e meu querido,

Eu estou, fisicamente, bem. As vítimas machucaram, não houve fraturas, mas "ralaram todo o corpo".

O problema é a consciência, né? Era um casal desempregado, com um filhinho de um ano, que precisa da moto para pequenos "bicos".

Mas tudo tem se resolvido, aos poucos, mas tem.

O lance de imaginar que poderia ter matado aquelas pessoas é que me deixou em transe por alguns dias. O acidente aconteceu no sábado dia 21 e não tinha vontade nem de ir a esquina. O carro, na oficina. Frente destruída.

Mas como há males que vem pra bem, e como bem disse a Bel, pelo menos, (re) liguei. GRAÇAS A DEUS!

Foi muito bom compartilhar com vcs esse momento OSSÍSSIMO. Esse espaço realmente é especial. Muito!

Beijos.

Karen disse...

Elga,
que susto!!
sinceramente, é uma situação bem desconfortável, mas ainda bem que tudo está bem.
Já conversamos sobre isso quando eu estive aí, lembra que te falei que as vezes recebemos sinais e só paramos para prestar atencnao depois? Pois é, alguns servem pra nos fazer acordar...e perceber que as coisas poderiam ser bem piores do que pensamos que está.
Se precisar de algo, sabe que pode contar comigo.
Bjs no coração.

Juliana Lima disse...

Putz........ Credo!

Estamos precisando é de benzer! Mas graças a esse Deus grande é que tudo não passou de um grande susto!

E que susto, hein? Mas bola prá frente!

Bjo grande

Pássaro Ermo disse...

Ai que susto mesmo... Casos assim nos faz pensar muito na vida... E pensar que a melhor maneira de evitar a perda dela é dirigir pensando na imprudencia dos outros motoristas... Ser prudente por todos... Absurdo, mas real... As vítimas estão bem, vc está bem... Isso é o que importa e bola pra frente amiga... Qualquer coisa estamos ai... Beijos!!!