segunda-feira, 23 de março de 2009

Prato de segunda (feira?): canjiquinha sem costelinha.

Há uma semana, tenho almoçado na escola. É uma conveniente e cômoda opção. Para muitos dos alunos, a opção é única, porém. A reflexão não me tirou o apetite, graças à dureza de minha sensibilidade aguçada, mas me fez, quase, engasgar.

Lembrei do telejornal que todo mundo vê e que fala, frequentemente, sobre a refeição ideal que poucos podem fazer. Alimento multicolorido. Uma nuance para cada tipo de vitamina. A merenda daqui é bem diferente! Aqui, ela tem, quase sempre, uma única cor - e esse “quase” aqui foi posto mais pela beleza que nele vejo, e não exatamente pela necessidade na compreensão justa da frase.

O amarelo do arroz temperado, da canjiquinha, do macarrão (porque para ser macarronada falta muito!), do carboidrato, do amido. Amarelo da fome, da febre, do sorriso sem graça. Da anemia da falta de ferro no sangue e do excesso dele nas metáforas de vida daquelas crianças.

A comida é simples, mas saborosa, bem feita, caprichada! E no outro dia está lá de novo, saborosa, bem feita, caprichada. E no dia que se segue a esse, vem saborosa, bem feita, caprichada. E todo dia do mesmo jeito. Todo o dia a mesma coisa amarelada.

A cor para ausência de cores nas coisas deveria ser mesmo o amarelo. Ao menos a esperança vem se vestindo de forma adequada. Toda colorida, fundindo o vermelho do tomate maduro com o verde da couve cortada bem fininha, em um fundo branco imaculado da fusão das cores.

E passa um dia atrás do outro e a comida está lá, prontinha, saborosa, bem feita, caprichada. Amareeeela!

Por Elga Arantes, 2009.

4 comentários:

Bel disse...

... que saudade tua, Adorável! Venho muito por aqui pra ti ver ... pra ver como descreves o mundo que te rodeia. Pra ver como valseias com ele. O compasso de hoje chegou a me apertar o coração ... porque nem sempre o capricho significa cuidado, não é? Quanto ao amarelo que me foi apresentado ... eu o misturaria com o laranja ... talvez frutas como o mamão poderiam enriquecer os pratos e as telas ...

Saudades,
Uns beijo e alguns estalos,
Bel

Anônimo disse...

AMARELA COMO VOCÊ!!!

Anônimo disse...

Elga,
nesse interim, nós, educadores e educadoras, podemos alimentar de cores as mentes, os sonhos dessas jovens potências. Lembro de ter comido muita comida "amarela". Lembro com carinho de algumas delas. Mas o contexto, a fome de aprender, me levaram a outras cores pela vida. O exemplo de alguns professores na vida, por exemplo, a fé que tinham no meu crescimento me fortaleceu nessa busca, nessa fome que não acaba.
Um abraço enorme,
Glaucy

Karen disse...

amiga,
tão bom seu cometário...
amo vc.
volto com mais calma pra ler.

bjs e otimo domingo.