segunda-feira, 2 de março de 2009

ALIENado(s). Será?

Depois de lembrar a mim mesma que aquela informação veio por correio eletrônico, através de uma rede na qual qualquer pessoa pode ter acesso, tanto para consulta como para publicação de impressões, interpretações factuais ou inverdades irresponsáveis e danosas, mesmo que, por vezes, meramente zombeteiras, o que pensei foi: “Quem ele pensa que é?” Foi isso o que pensei, em princípio. Aliás, no princípio do término da leitura daquela transcrição. Porque, enquanto lia, a única coisa que tentava fazer era mastigar aquelas palavras. A digestão, até agora não consegui realizar. Pobre de meu suco gástrico! Doce e inofensivo em relação a acidez e ao azedume daqueles pensamentos amargos. Aquilo era, supostamente, uma entrevista. Existe um alguém por trás daquelas letras. Alguém produziu um pensamento ao articular aquelas idéias. Existe um autor. Não foi uma invenção,puramente; uma transcriação, talvez. Ainda assim, a verdade daquele homem. Homem? Será mesmo humano? Mesmo com tantas idéias desumanas? Idéias que depõe contra a humanidade; ou da idéia do que seja humanidade; ou do que deveria ser a humanidade.

Mas não é essa a pergunta que deveria ser feita. No lugar de interrogar sobre o que seja aquele ser, o mais acertado deveria ser indagar, quem criou aquele ser. Nisso, “Marcola” está certo. (E nunca pensei que concordaria com “ele”, em nada) E ilustrou muito bem ao citar Dante e seu inferno: “Nós somos o início tardio de vossa consciência social”. E isso é, realmente, o que ele “pensa que é”. E ele pensa! E ele lê. E ele articula. E ele manipula. Manipula a mim, nesse momento, fazendo com que eu pense, categoricamente, em tudo que ele analisa acerca da raça humana, da sociedade, da corrupção, das oportunidades negadas. O que uma inteligência dessa teria feito com oportunidades diferentes oferecidas através da educação, da solidariedade? - ou da responsabilidade social, se preferirem o termo.

Ele quase conseguiu me lançar no abismo da desesperança, no caminho sem volta da inércia, da descrença. E sem a crença da realização do que se deseja, não há sonho; não há meta, nem objetivo; não há porquês, nem razões; não há vontade, nem desejo. E o desejo é o que há que mais pungente no ser humano. É esse o sentimento lancinante que mobiliza. E só há vida com movimento da pulsação do corpo, da mente e do coração.

Mesmo que seja tudo uma invenção, que não seja a transcrição de uma entrevista, ou que não tenha sido exatamente essas as palavras, ou que não tenha sido o Marcola quem as proferiu, existe alguém atrás dessas idéias, dessa crença, dessa profecia catastrófica. Existe alguém tão desesperançoso com a vida que já, quase, morreu. Existe um alguém que quer fazer com que os outros se sintam um “ninguém”. E isso, por si só, já deveria nos preocupar. Muito!

Por Elga Arantes, 2009.

P.S.: A informação que recebi e que considero mais confiável é a de que a suposta entrevista a que me refiro (www.ternuma.com.br/marcola.htm) é uma ficção criada por Arnaldo Jabour. Quem souber alguma coisa sobre o tal texto, por favor, fique a vontade para comentar.

3 comentários:

sblogonoff café disse...

Elga,
Quando li a entrevista pela primeira vez, não foi num e-mail, mas numa revista da faculdade. Na hora, não questionei a autoria das respostas.
Agora, numa rápida pesquisa através do Google, entre outras coisas, consta que foi publicada pelo jornal O Globo, na coluna do Arnaldo Jabour. Outras fontes dizem ser criação do próprio Arnaldo, já que não tem sentido publicar em sua coluna uma entrevista de outro, existindo no jornal lugar apropriado.
Eu li em 2006 e as datas nas fontes são dispersas.
Agora, de teimosia eu quero saber, porque para mim, seria muito preocupante que o lado negro da força tenha noção da fraqueza dos Jedis e saiba que a maior disseminação do terror é o assassínio da esperança de um povo.
PEnsa, é um caos político. É como em Santa Catarina: aquele pessoal que já não tinha nada a perder, saiu saqueando supermercado e lojas. Foi a visão do apocalipse.
Sinceramente, não fui atingida pelo monstro da inércia. Acredito em pequenas mudanças, mas vejo coisas acontecendo que me desiludem sobre as grandes mudanças. Meu mundo utópico de revoluções políticas não existe mais.
Esta é uma fase transitória do mundo, minha amiga, e monstruosidades assim estão acontecendo mesmo. Todavia, habitamos um planeta governado por poderosas entidades e é apenas por causa de minha crença que minha esperança não morre. Se eu vivesse apenas de Nietzsche, já tinha entrado pra Farc!
Existe solução sim, mas para a burrice perversa, só as eras.
Enquanto isso na floresta...

sblogonoff café disse...

enquanto isso não nos custa insistir na questão do desejo não deixar se extinguir
desafiando de vez a noção na qual se crê que o inferno é aqui...
(A Cura - Lulu Santos)

Anônimo disse...

Show!
E a citação da amiga aí tb.
O trecho de LUlu citado por ela, foi perfeito.