terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A golpes de Machado, Assis estou

São cem anos. E de morte! Ninguém com uma comemoração póstuma centenária e tão célebre poderia ser mera burla. Isso é que não. Tal sentença foi que me levou a temer a irresponsabilidade de falar do que experimentei no sentido de “verificar pelo uso”, e não na acepção literal e fiel de “tentar, analisa e aprender”. Minha homenagem ao ilustre escritor e jornalista foi esta: Fechei os olhos ao reler suas obras para que meu coração revoasse por terras onde nunca esteve.

Apreciar a beleza fascinante nos feitos de Machado de Assis fora mais prazeroso que confirmar, voluntariamente, a relevância da grandiosa obra do autor. Sempre preteri o senso comum às minhas sensações mais subjetivas. E, hoje, posso falar que a golpes de “Machado”, “Assis” me sinto.

Com exatidão ainda maior, a identificação é mesmo com Bentinho. Maior que a exatidão é, decerto, a franqueza à qual me obriga confessar que a cobiça era de enxergar-me em Capitu; ou um pouco dela em mim. Não pela dissimulação ou fim manipulador que produzia no amante atormentado; é um poder que não almejo, mas pelo olhar célebre! A ressaca que mais que o recuo do mar, entende a aproximação alvoroçada das ondas com as areias virgens. E o motim, quase sempre me alucina.

Entretanto, apesar do frenesi que me habita, receio que o efeito produzido seja de marola, e que não signifique mais que ternura, admiração, intimidade ou crédito. Não todos juntos, pois se assim fosse, um único vocábulo derrogaria os demais, neste articulado.

Assim, percebo-me, analogicamente, - posto ser, contraditoriamente, uma ficção que parece afirmar a existência de uma realidade que independe do que se conhece dela - como o personagem pueril e um tanto meticuloso, para não usar outro adjetivo tão banal quanto torpe. O menino quase homem que acreditava no desfecho ditoso de suas imaginações mais extravagantes. E acredito-me, por pretender que somos intimamente parecidos, que se felicitava por tais devaneios. Precisava deles para manter a chispa que se lhe tornara o que possuía de mais egrégio em sua vida. Esta que não mais dele era e que não sabia se algum dia fora, ou se a retomaria.

Esses sentimentos já existiam antes de ler com a alma palavras que, outrora, somente os olhos enxergavam. Eu já existia antes de Machado de Assis e seu Dom. Esses, mais evidente e magnificamente, já se manifestavam também, bem antes de mim. A diferença é que o “eu” de hoje compreende e perdoa a arrogância ingênua do “eu” de ontem e desconfia de si, refletindo sempre. Mas nunca, nunca desacreditando no futuro de quaisquer que sejam os personagens que escolher para confessar suas urgências.

Por Elga Arantes, 2008.

7 comentários:

Karen disse...

amiga,
volto com mais calma pra ler.
bj

Bel disse...

... "confessar urgências" . Só por essa elaboração em forma de frase já valeria ter (um dia) passado pro aqui.
Elga querida, admiro teu poder de sínteses. Tua constante entrega a elaboração racional das sensibilidades latejantes em ti, no muito que te rodeia. Confessei algumas de minhas urgências.
Um beijo,
Admiro-te,
Bel.

Patrícia Ferraz disse...

quero saber se houve amigo oculto!!!!
saudade de vcs...

Bel disse...

Elga adorada,

Sinto tua falta!
Sinto e tento entender!
Estou de férias ... saí de Curitiba mas passeio pelos jardins que tanto me encantam. Bom saber que passates em frente a minha janela. Bom saber que me deixastes um sinal.
Espero pelo nosso encontro ... cada dia um tanto mais.
Um beijo saudoso,
Sininho.

Karen disse...

coração,
estou com saudades. estive fora a trabalho, 3 dias.

mande noticias.

bjs

Anônimo disse...

"Nas pessoas de capacidade limitada, a modéstia não passa de mera honestidade, mas em quem possui grande talento, é hipocrisia."

PENSE NISSO E FIQUE TRANQUILA!!

Bel disse...

Elga, reluzente!

...sei que o Natal é só hoje e acho isso uma lástima. Assim, como sei que estás recolhida entre os teus amores, esparramada no colo do teu maior amor em foma de Mel!
Sei que as luzes logo irão diminuir e no dia de Reis sumirão. Mas sei que os enfeites e os laços podem permanecer o tempo que for ... o tempo que quisermos que seja. Assim como é nesse nosso mundo daqui, nem sempre tão colorido!
Desejo-te que os laços dos pacotes de ontem, de hoje, te enfeitem ainda mais. Que possamos nos religarmos um tanto mais.
Quero que saibas que és um mimo daqueles bem coloridos e delicados, és jóia rara, és inteligência viva e orgânica, és artista de alma densa, és uma crítica de si, és uma raridade nessa virtualidade tamanha. És!
Espero te acompanhar por mais muito tempo. Espero que me acompanhes também.
Entendo-te, na medida do que compreendo, na medida das dores que vivi e senti.
Espero-te pra entender ainda muito mais.
Um grande e afetuoso beijo nesse dia de Natal.
Sininho.