domingo, 19 de outubro de 2008

Saudade Vazia (ou 2+2=4)

*Atendendo à sua solicitação, Bininha. Espero que goste.

Não consegui dormir pensando naquele dia. Naquele dia, ao ouvir-te, senti meu coração parar. E, parada, corei seu sentimento, fechando os olhos para não te escutar.

Suas palavras não haveriam de ser digeridas por meu estômago tão eternamente sensível a emoções e responsável pelas conseqüências sistêmicas do restante do meu corpo.

Nunca foram!

Assim, a única coisa que pude expelir foi o líquido amargo da impotência. A bílis do não poder fazer mais nada.

E as palavras... Essas não voltam mais, depois que partem. O verbo desdizer só existe mesmo em dicionários. Só funciona efetivamente quando como sinônimo de desmentir. Mas só se desmente uma mentira. E se era mentira, na verdade, não existiu. A verdade da mentira é sua inexistência dicotômica. O verbo desdizer torna-se nulo.

Desdizer, segundo Aurélio, também é negar. Quem profere uma palavra e a desdiz nega, portanto, sua própria fala. No, mínimo, é contradição. E eu evito, quando possível, fraqueza de espírito. E se não era ela o que eu pensava ser, ela também nunca existiu. A pessoa se torna nula.

Nulidade, por sua vez, é algo sem validade, insignificante, sem mérito. Deduzo que não digeri aquelas palavras, não por serem indigestas, mas por não terem sido reconhecidas como alimento pelo meu corpo; para meu corpo e para minh’alma. O que não alimenta, não é aproveitável. São rejeitos. Corpos estranhos. Vocábulos estranhos, conjunto de sons articulados. Somente isso.

Tentar preencher a vida com o vazio, com o nada, com o nulo pode causar gases. E isso dói. A dor de quem acumula gases é uma dor que engana. Uma dor dissimulada que finge ter razões concretas, mas que depois, percebemos, era apenas ar; fluido gasoso. E que, no final das contas, sai da gente como flatulência. É... Flatulência nada mais é que acúmulo de ar no sistema digestivo.

Calculo, finalmente, que sofri tanto tempo por um punhado de ar preso no meu estômago e que a única coisa que precisei fazer para resolver o problema foi soltar um “pum”. Um desprezível “pum”!!

Por Elga Arantes, 2008.

10 comentários:

Karen disse...

oi elga,
li este post e te andei um email...
usei esta imagem uma vez, e fiquei preocupada...
bjs

Unknown disse...

Ei!
Candim quem vos fala :D
Gostei muitooo da forma como vc escreve!!!
Fiquei com vergonha da minha maneira mais vaga de dizer o que sinto!!
Não li tudo, mas, gostei demais das coisas que li...
vou visitar sempre!
bjo!
e prazer em conhecê-la!
com certeza, temos conversa para muito mais dias!

Bel disse...

E, como pode tantos vazios numa pessoa assim tão cheia? ... eu pensei. Depois entendi. Esta é a causa primeira; há muito e te sobra. Tens acúmulos e o remédio é se aliviar... soltar. Deixar partir e ir junto mas para um outro lugar: o inverso.
Querida, que texto lindo: " Suas palavras não haveriam de ser digeridas por meu estômago tão eternamente sensível a emoções e responsável pelas conseqüências sistêmicas do restante do meu corpo." Tantos entendimentos já te são evidentes. Sugiro que te segures com eles. Que possas te aliviar com tudo o que já entendestes sobre ti e sobre tua sedenta forma de amar.
Cuide-se bem,
Um afetuoso beijo,
Bel.

Elga Arantes disse...

Oi Candim, que bom que veio!

Já passei no seu "Mosaico" no domingo e gostei muito. Tens que investir mais lá. Eu, ao contrário, já o li todo! Solte-se garoto, escreva mais, rs...Depois caí em uma otite infernal e só hj voltei à ativa.

Quantos elogios! Obrigada, mas penso que somos, apenas, diferentes. Já até falamos um pouco sobre isso, não é? Vc foge com medo dos oportunistas, eu vou ao encontro para que não pensem que sou uma... Nossos escritos têm algo a ver com isso tudo, não acha?

Gostei demais de te conhecer. Vamos voltar a nos ver, com certeza!

Bel,

Esse texto, tem muito de mim, mas é para alguém especial, entendes?
Mas fico feliz que tente me aliviar. Obrigada pela amizade!

Beijos.

Um beijo,
Elga.

Bel disse...

Hum... entendi mais agora. Ou, mais honestamente: só entendi agora! De toda forma ... penso como escrevi sobre ti, sobre mim. Além de querer te aliviar, quis te soltar.
Vou ler novamente ...
Sempre querida ... tu és.
Um beijo,
Bel.

sblogonoff café disse...

Elga,
Você não existe!Rs
Eu gostei bem desse post.
Para réu preso, habeas corpus funciona. Para ar preso, Luftal.
Para o resto: chuva.
E que ela caia, como uma luva, um dilúvio, um delírio.
E que traga alívio!!!

A negação é tipo o silêncio: o ser paradoxal da linguagem.
E tudo um dia vira pum.

sblogonoff café disse...

Elga, me ajuda que hoje estou à manivela...
Você está me perguntando exatamente o quê lá no sblogonoff??!

Alusão, floco de neve.....

Fernanda Matos disse...

Saudades...doloridas...
Saudade de vc...
Felipe foi pro mar.
Beijos.

sblogonoff café disse...

Sobre o post!
Uai, menina?!!!
Josephine, inclusive o "ph" veio à cabeça na hora em que eu escrevia o post. Não é necessariamente alguém, mas é um pouco de cada pessoa que perde a esperança a cada menina assassinada. Se fosse assim, eu daria um tiro em minha cabeça e todos os problemas estariam resolvidos. Assassinatos e atrocidades acontecem todos os dias, mas parece que quando sai no jornal, as pessoas ao invés de quererem dias melhores e fazerem por onde, perdem a fé, achando que o mundo está perdido. Como a Eloá foi assunto lá no escritório e em alguns blogs, escrevi o texto.
No dia seguinte, uma amiga leu e disse que perfeição não existe e que era mais uma coisa do meu reino de fantasia. Então mandei ela ler direito e fiz o segundo post.
Mas Josephine voadora é algo de Titanic.
Perfeição e flocos de neve está em Monstruck, com Nicolas Cage.
O resto é nosso, comum dos homens!!

Clareou?!!

Abraços!

sblogonoff café disse...

Entendo sim, porque não?!!

***
Preciso te contar: Existe Maria Mole sim. Tem aqui!! E ainda vem com um balãozinho pregado!!!
Ganhei no dia de Cosme e Damião, junto com outras balas.

Mas nunca mais encontrei daquelas mariolas que vinha com um índio apache ou com um soldadinho!