sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Deveríamos estar contentes?


Sempre as malditas convenções! E eu que achava que esse mal não me alcançava. Mas ele me alcança, sim. O medo de expor, muitas vezes, minhas idéias revolucionárias, ingênuas, imaturas e surreais, como são muitas vezes taxadas, é fruto desse veneno. Um dos maiores da humanidade. Envenena o que há de mais primordial na nossa espécie. O talento para criar, modificar, adaptar-nos à diversidade. Esta, pobre coitada! Totalmente corrompida pelo modelo capital-eurocêntrico que determina que respeitar a diversidade se limita em construir rampas para portadores de necessidades especiais, ou reservar cotas nas empresas e nas universidades para os mesmos. Ou ainda, permitir, por exemplo, que homossexuais dividam o mesmo espaço que os outros (melhores???) na piscina olímpica do clube que, como você, eles se associaram. E pagando na mesma moeda que os outros (normais???).

A inclusão social. Como somos bondosos! Permitimos. Quem endossa essa permissão? Quando se precisa permitir é porque, antes, excluiu-se. Então, denomina-se um determinado grupo social. Se precisarmos dar um nome diferente, já será exclusão. Para haver inclusão tem que haver o excluído. E a linguagem é a forma mais sutil e mais cruel de reforçar o preconceito. Porque a linguagem preconceituosa é, contraditoriamente, silenciosa e, assim, passa despercebida. Impregna o inconsciente e faz profanar, mesmo que involuntariamente, outros seres humanos.

Idéias, também no mundo de hoje, só serão válidas com fortes argumentações. Não se tem direito de tecer elucubrações inacabadas, nem opiniões em fase de formação. Se não houver respostas ou soluções para as mazelas mundanas, suas formulações não passarão de meros devaneios. Cuidado! É melhor que seus filhos já nasçam prontos. As próximas gerações não deverão permitir desperdício de tempo em filosofias vãs. Acompanhar o fluxo é sempre mais seguro e socialmente aceitável.

A alienação é um estado de espírito em fase terminal, para muitos. E para esses, a utopia é que é a alienação. Utopia é inquietação, tentativa, pelo menos. Não percebem que a “não utopia” é que é acomodação, medo da mudança, egoísmo em não se privar de algo em prol de quem não se conhece, ou, pior, de quem está ao seu lado. Ter mais é ser mais. Ter mais coisas é ser mais gente. E quanto mais você tem, mais você é. Ah! E há que se lembrar que esse “ter mais” é referente à coisas, e amigos não entram na categoria das coisas. Você tem muitos amigos, mas não tem casa própria. Tem filhos, mas não tem uma TV de plasma 32 polegadas. Tem um grande amor, mas não tem um carro do ano. Portanto, meu amigo, você não é ninguém. Pelo menos ninguém em evidência. Vivemos hoje em tempos que todos querem ser o “x” em evidência da matemática, lembra? Aquele que multiplica todo o resto que está dentro dos parênteses? Em evidência, mas por fora. “Mais por fora do que ‘x’ em evidência”.

Eu sou um dos “x’” que está lá, no meio da muvuca, dentro dos parênteses, misturada às letras do nosso e de outros alfabetos. No meio dos números que multiplicam, mas também dividem. Dos expoentes, alguns que se reproduzem outros que são sempre eles mesmos. Estou no meio de radicais. De denominadores que muitas vezes racionalizam, outras vezes são irracionais e não denominam nada.

E o “x” em evidência, caro leitor, no final dessa equação, muitas vezes é igual à zero.


Por Elga Arantes,2008.


"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".

Eduardo Galeano

13 comentários:

Anônimo disse...

C tá muito enganada sobre vc.

Elga Arantes disse...

Então, explique-me como sou... rs. Essa é uma das opiniões que ainda não consegui formar. Portanto sou, ainda, 'mero devaneio irresponsável'!

Bel disse...

Vim te ver, te ler. E encontrei uma imagem psicodélica (fiquei pensando sobre essa definição tua sobre meus devaneios). O que é psicodélico pra ti? Essa fotografia aí de cima é psicodélica, Elga!
Sinto falta desse "nosso"mundo virtual, dessas dores d'alma assim expostas como feridas em seu estado inicial. E acho que sentes dores parecidas com as minhas. Sobre ti ... (por enquanto)só sei dizer que tens profundidade, que tens intensidade e que rediges imensidões. Adoro tua escrita e tua insensante vontade de saber quem és, como alguns(as) te vêem. Sei bem como é ser assim.
Um beijo meu,
Bel.

sblogonoff café disse...

Eu acho incrível certas coisas...
Uma delas é a coincidência constante em nossos pensamentos.
Parece mesmo com os memes de Richard Dawkins, já ouviu falar?

OLha, em meus pensamentos eu me achava dízima periódica, sabe? Aquela coisa que vai crescendo e nunca chega em lugar nenhum?

Quando caminho pela avenida onde está o escritório em que trabalho, me sinto uma incógnita. Um rosto entre tantos rostos diferentes.
Pessoas se trobam, mas não sabem das histórias, do que cada um traz.
Saõ tantas lojas, é o consumo intenso, é o produto que devo esperar mais um pouco para ter, são os planos para amanhã, são os planos que não realizei...
Ontem liguei pra minha mãe e disse que estava difícil conquistar as coisas, não ser uma qualquer, qualquer uma.
Então ela me disse:
Você está conquistando a si mesma.

Aquilo me preencheu, embora não faça diferença nenhuma para mais ninguém.

O mundo é tão diverso e estranho!
E a matemática provando que dois e dois são cinco vem enlouquecer. Estamos somando, dividindo, subtraindo ou multiplicando. Este cara pertence ou não pertence à esse grupo?
Somos naturais ou racionais?
E nossas intercessões?

É tudo só artesanato.
O resto são escombros!!!

E pra terminar meu comentário imenso, deixo a musiquinha do Pato Fu: na verdade eu continuo sob a mesma condição: distraindo a verdade, enganando o coração...

Um abraço, moça.
E sempre que puder: ROMPA

Rodrigo Alves de Carvalho disse...

Se avexe não Elga,

O "utopismo" consiste na idéia de idealizar não apenas um lugar, mas uma vida, um futuro, ou qualquer outro tipo de coisa, numa visão fantasiosa e normalmente contrária ao mundo real. O utopismo é um modo não só absurdamente otimista, mas também irreal de ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas fossem.

Parabéns pelo texto. Mas não se preocupe,também tenho problemas parecidos; veja o meu caso:

"Eu me amo, mas não sou correspondido..."


Beijos,

Dido Carvalho
http://radicalidadedemocratica.blogspot.com/

Sheyla disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sheyla disse...

De um jeito ou de outro, quando a gente se vê, estamos inseridos nisso tudo. Todos jogados num tornado e presos numa cela. Revelamos o que há de melhor e o pior de cada um de nós. Será que quem recebe o melhor ou o pior, na verdade foi quem pediu por essa oferta?
Quem é o excluído e quem é o incluído? Existem os inocentes e os algozes?
Livremo-nos disso e de tudo mais.
Por que não respiramos voluntariamente como os golfinhos?
O que minha reles experiência pode dizer é que quando descobrimos essa respiração, descobrimos outras portas para o imensurável labirinto. E o que minha reles experiência pode adiantar é que há tanta alegria quando permitimos mais e mais novas respirações.
Um Vôo Intraduzivelmente Real é o que desejo a ti, a mim e a todos!
Bjs

Fernanda Matos disse...

A sensação é esta mesmo...
Tem dias que valerá a pena...
Tem dias que precisará fingir de morta...

Elga Arantes disse...

Oi Bel,
A imagem é psicodélica, sim. Mas pra outrem, talvez não. Depende do tipo de alucinógeno a que estamos submetidos. Depende de todo o movimento da consciência, da inconsciência...da psique de cada um, não é? Seus textos me dão ã sensação de estar num sonho meio real, meio dormindo, meio acordada. Às vezes não sei se sou a mulher que sonha com a borboleta, ou a borbolte que sonha ser uma mulher sonhando com a borboleta.

Estrela,
Tenho a mesma sensação em relação aos seus escritos. E isso é forte. Memes é algo sobre memória, pensamentos passados de mente à mente, tipo telepatia? Não sei ao certo o que seria, não...
Fico, às vezes, cansada de tentar expor minhas idéias e ter que ouvir que sou uma irresponsavel adolescente brincando de comunismo. Quem me dera ter a coragem de ser comunista.
Dizima... que perfeita metafora!

Oi Dido, voltou, né? Que bom, vou te visitar em sua casa.

Sheyla,
Qualquer um pode ser o incluído e o excluído, acredito. E até os dois ao mesmo tempo. Depende do referencial, não é?

Nanda,
Tenho fingido de morta muitas vezes. Sinto-me tão cansada! Também amo você.

Beijos à todos e, por favor, voltem sempre.

Anônimo disse...

Oi Elga,
A sua assertividade me fez te descobrir a alguns anos, Era um desafio.. "Uma mulher de gelo com uma chama(paixão,entusiasmo,desejo ardente) dentro". O gelo começou a derreter e vc foi embora.
A sua personalidade deixou uma sombra... ainda continuamos caminhando no deserto, sem água..sua sombra é o que nos resta..

A evidência do "X" depende da necessidade do observador que interage com a equação.

Começe a pensar que vc.. pode estar enganada sobre vc, enquanto não forma uma opnião. Já leu sobre a história do gato na caixa ?

Abraços e beijos!

Karen disse...

Oi Coração,
Acho que vc deve ter percebido minha opinião sobre a diversisade...O preconceito está enraizado em nossa sociedade e quem não segue o padrão seja ele qual for está submetido a julgamentos. Infelizmente é uma coisa bem triste pois somos todos pessoas que buscam algo melhor, ou nem sempre sabemos o que buscamos mas só o fato de fazer qualquer movimento nos torna diferentes. Os homossexuais, os gordos, os tatuados (:P), os livres, os revolucionários...
A sociedade chegou ao ponto de que ter é mais importante que ser...isso me entristece.
Não sei qual o X da questnao, mas esta com certeza é uma equeaçnao que nenhum matemático brilhante é capaz de solucionar...

bjs

Elga Arantes disse...

Ge,

Apareça mais, por favor!

Adoro as coisas que escreve.

Mas discordo de algumas - ainda bem, né?- nunca fui mulher de gelo. Não sobreviveria. Tudo a minha volta é muito quente. Derretiria-me com facilidade e num breve espaço de tempo.

Estou aqui, não fui, não.

Sobre o X, aí é que está a problemática. Muitas vezes estou em evidência, mas no final, não faz diferença! Isso me deixa triste, as vezes, e em outras tantas, me deixa é feliz!!! rsrsrs...

Unknown disse...

Elga, a vida é única ,e única é nossa forma de vivê-la... pense no futuro e lembre-se do passado , afinal não podemos nos camuflar em erros cometidos e em situações cotidianas de desvaneios e limitados a erros alheios. A vida é uma imensa sensação de que não poderemos mais estar aqui após um segundo, mas esse segundo que estamos, temos que fazê-lo valer a pena cada centésimo vivido....
e lembre-se sempre: SEMPRE É MAIS DIFÍCIL CONQUITAR UM AMIGO , DO QUE PERDER CEM DELES....
GRANDE BEIJO