domingo, 17 de agosto de 2008

"Ôh, menino esquisito!"

Para uma sexta-feira, cheguei em casa cedo. Para quem havia estado na casa do Sr. Ronaldo, já era mesmo hora. Explico. O “Opção”, estabelecimento do senhor acima citado, é uma das casas de samba mais legítimas da cidade. Mas começa tão cedo quanto termina. E eu, que adoro a madrugada - e o samba – sempre vou embora querendo mais e querendo esticar o recreio. Continuar exorcizando as dores e os amores, celebrando outros amores, a vida e os bons amigos.

Tenho muitos bons amigos! Mas sempre quando encontro o Ela – como ele ainda se lembra do “Garroci do petaca”, vai sacar na hora - passo mal de rir. Ele sempre lembra de cada coisa divertida! Passei as primeiras horas da madrugada já de pijama, vendo TV e recordando das coisas que ele desenterra cada vez que nos encontramos. Comecei rindo sozinha e lembrando de quando ele vendeu seu carro para trocar e pegava carona comigo. Ele me dava sinal na rua, como se eu fosse taxista. Ele gostava de zombar do corsinha branco. Mas também adorava ir embora nele ao final da noite e ainda tirar onda dizendo para seus rolinhos, no outro dia, que tinha que devolver o carro na casa de uma mulher que não saía do seu pé. Já me fez até fingir que era sua namorada para fazer ciúmes na ex. A menina, coitada, quase enfartou quando soube que eu estava grávida. Achou que o filho fosse dele. Filho da... Elga, claro!

Noutras vezes, a gente trabalhava morrendo de sono, resultado de uma noite anterior agitada. Eu atendia “Banco Universo (adorei!!!), Elga, bom dia.”. E do outro lado da linha, ele com a voz espremida fingia ser um correntista chato para reclamar de alguma remessa de numerário não acatada. Também ficava escondido fazendo caras e bocas de longe enquanto eu atendia algum cliente, só para me ouvir dizer, “O senhor pode me dar licença? É um minutinho só.” E correr para onde ele estava e agachar com a barriga já doendo das suas palhaçadas.

Eu sempre brinquei que ele não teve competência para ‘fazer amigos’ porque roubou todos os meus. Era só eu apresentá-lo e pronto. No fim-de-semana seguinte ele me ligava para avisar que fulano convidou para um churrasco na casa de sicrano. Eu perguntava: “Por que ele ligou para você e não para mim?”. E ele me olhava com a cara de ‘sou foda’ e emitia um orgulhoso grunhido irônico arqueando a sobrancelha.

Apresentei-lhe ao Chico, o Buarque, e caçoei dizendo que para andar comigo tinha que conhecer e gostar de Chico. Em uma semana ele chegou cantando “O Meu Guri” com aquele ar dissimulado e desinteressado de quem já houvesse cantado aquela música inúmeras vezes. Até hoje ele pega no meu pé por conta de um dia, aliás, uma noite (quase sempre são noites) em que bebi meia cuba além da conta (ta bom, foi mais de meia...) e comecei a divagar sobre a música “Construção”, repetindo sem parar o quanto o compositor fora fantástico ao cantar "Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe.". Agora, recordando na mesa de qualquer boteco, completa me arremedando com uma cara explicitamente cênica: “...e depois ele vai mudando e trocando os adjetivos em cada verso fazendo a música virar outra, cara, muito louco!!!!”.

Ele também levava a gente em cada programa furado! “Olha a roubada; olha a roubada!”. Pagode com amigo estranho. Gente esquisita dançando axé. Cruzes!
Agora, foi embora. Mudou de cidade para roubar mais amigos de outras pessoas, certamente.

Nesses dias em que esteve aqui, não perdeu a oportunidade de tripudiar e disse que eu devo estar com um encosto do Ursinho Puff. “Hã?”. Ele aclarou: “Muito bonitinho, muito fofo, gente boa, mas não transa com ninguém.”

Ex-bancário, ex-pagodeiro, ex-morador do Floramar... Vai esperar o que de uma pessoa dessas???

Por Elga Arantes, 2008.

4 comentários:

Karen disse...

Oi Elga, heart!
Este é o típico post gostoso de ler e imaginar como é a pessoa descrita! rsss
Fico feliz que esteja mais animada. Amigos verdadeiros são mesmo de um valor inimaginável. Dia desses tb encontrei um, de infância e rimos muito. Delícia!
bjs

Anônimo disse...

E além disso nasci no dia das bruxas , vai encarar?? kkkkkk Que dia vc vai vir a Seven comer um pão com bola comigo?? rsrsrs bjão

sblogonoff café disse...

Ei!
Sabe, acho que se não fossem pelas amizades, mais da metade das nossas lembranças seriam de horas inertes. Ter amigos é tão bom, ter caros amigos, melhor ainda. E o melhor nas distâncias, é a gente descobrir que as amizades se perpetuam, seja na memória, ou no msn!!

Patrícia Ferraz disse...

A gente vai mesmo se fazendo com histórias... e é muito gostoso escolher os personagens, conhecê-los, compartilhar com eles os episódios...
o texto ficou gostoso. muito gostoso... :P