segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Ana Maria, perdão.


O baile foi dela, mas quem dançou, fui eu.

Sinto muita vergonha. Vergonha pelas minhas fraquezas, vergonha por minha falta de compromisso, vergonha pelas desculpas que tenho dado para as minhas atitudes, vergonha pela falta de responsabilidade com o outro e, principalmente, comigo mesma.
Vergonha por ter bebido tanto naquele dia. Bebi de tudo: egoísmo, ingratidão, inconseqüência, burrice, infantilidade e até uma dose dupla de ‘querer abraçar o mundo com as pernas’, à cowboy.

Naturalmente, meu corpo, reagindo aos malefícios causados pelo exagero foi obrigado a regurgitar. Não. Palavra muito suave para o processo que ocorreu. Meu corpo desembuchou. Desembuchou amizades, confiança, carinho, segurança, consideração, força, coragem e dignidade.

Mais uma vez, seguindo o trâmite normal de quem comete tal irresponsabilidade, foi preciso que recebesse na veia, as substâncias necessárias para estabilizar o desequilíbrio causado. Injetaram uma dolorosa quantidade de realidade e sem tranqüilizante, com certeza. Sei disso porque não senti meu coração nem minha consciência mais calmos em momento algum.

Meu castigo foi merecido, apesar de insuficiente. Ao abrir os olhos, ao invés de receber palavras de apoio que são dados normalmente em situações e ambientes como aquele, o que ouvi foi um sonoro “Eu te falei, mas você não me ouve mesmo, né, Elga?”. Só então percebi que já havia amanhecido.

Também houve seqüelas, sim. O medo. Ah, essa será difícil de encarar! Medo sim, de que você nunca me perdoe, nem com o passar do tempo. Porém, mais ainda, medo de ouvir um - muito pior que qualquer repreensão ou reação de raiva – “Tudo bem, Elga, deixa prá lá”. Isso me doeria muito mais.

Pensei em pedir que meus amigos me estendam as mãos pelos últimos acontecimentos. Mas não o farei. Minha perversidade é tamanha que acredito que poderia estar fazendo isso para sensibilizar, provocando a compaixão das pessoas e a conseqüente compreensão de algumas delas. Sinto vergonha por querer manipular as pessoas também, às vezes.

Assim, o que me resta é engolir em doses diárias, como que um remédio amargo, essa vergonha, esse arrependimento, esse medo e pedir com coração sangrando que perdoe a pessoa que estou. Além disso, preciso lavar o longo prata com nódoas de bílis, no sentido denotativo, e fel, tanto na acepção conceptual como numa outra, mais alegórica, de remeter a circo, à cena deprimente, digna de risos. Uma mulher fantasiada. E o pior, em vão. Já que nem lá cheguei. Por último, mas não menos doloroso de executar, lerei no porta estandarte o que mereço ‘ouvir’.

Sinto vergonha de tudo e também daquele enfermeiro que ficou observando tudo com cara de "Que vergonha!".

***
A catarse.

No domingo pela manhã, atendi ao telefone. Algumas poucas falas. Mas foi no silêncio que ela me disse tudo. Desliguei depois de ser apunhalada com um “Obrigada Elga, tchau.”. Ela teria feito aquilo como punição? Ela me conhece. Sabe que aquilo me atingiria direto no coração. Ou talvez não tenha mais certeza nem disso justamente pela ausência cínica e tamanha falta de sensibilidade.

Como tenho feito todas as manhãs, na segunda-feira, abri meus e-mails e dentre eles brilhava, como uma placa de neon daqueles bordéis de novela das oito, o título: “Vocês sabem que não ficaria em silêncio”. Claro que eu sabia. Era por isso, que covarde, já havia resolvido, inclusive, que não entraria em terras comunistas, pelo menos em princípio. Não abri o e-mail.

Na hora de tomar a pílula vermelha e entrar no Matrix tecnológico dos blogs, torci para que algum dos parceiros houvesse escrito algo que me aliviasse a dor. Inutilmente. O que li apenas legitimava minha posição de óvni, alienada. Pulei um dos links como já havia premeditado. Fui embora dali correndo.

Como fez Pedro, o discípulo, neguei três vezes meu compromisso com o que é humano. Logo eu que adoro falar em humanidade. Até hipocrisia cabe nessa história triste e feia. Não devo ter pedigree. Talvez seja uma mistura esdrúxula de raças ou quem sabe seja um extra-terrestre ou um Frankstein.

Ao contrário de Judas, não beijei sua face, Ana. E essa foi a traição.

Por Elga Arantes, 2008.

18 comentários:

sblogonoff café disse...

Bom, são entrelinhas demais em um post. Leio os efeitos de suas atitudes, mas não sei se são exageradas ou se estão na exata medida de sua culpa. O fato ( muito estranho), é que hoje mais cedo, enquanto pedia desculpas à alguém a quem feri, me senti também o "cocô da mosca do cavalo do bandido".E saí da situação pensando num post!
Mas como não foi a primeira vez, sei que apesar de termos às vezes atitudes sórdidas, ninguém é inocente. Nem aquele a quem ferimos.(Ver filme imenso A Tempestade do Século)
Sabe que somos juízes muito severos de nós mesmos?
Eu faria sua defesa dizendo que há grandeza em reconhecer os erros e pedir desculpas, mesmo não esperando que ela ocorra.
Depois, é aguardar alguma oportunidade de reparação, ou qualquer sopro que alivie a dor da ferida que causamos.
Lembre-se, à cada infração há uma pena proporcionalmente correspondente. Não se penalize mais do que o necessário, retirando sua condição humana, menina!
Até mesmo Judas teve suas oportunidades de arrependimento e reparação! (segundo o que NÃO está escrito na Bíblia!.
A culpa pode funcionar como uma lupa que aumenta o tamanho do estrago.
A sobriedade nos tira da sombra e nos transporta à luz, onde podemos encontrar as melhores maneiras de resolver questões assim e lidar com o que temporariamente não tem solução.

Um abraço!

Michele

sblogonoff café disse...

Comentei os posts que não havia comentado ainda aí embaixo!

Elga Arantes disse...

Michelle,

Algumas coisas não tem desculpa.

Talvez tenha a oportunidade de remissão. Em outra ocasião. Nessa não mais.

Joana D'arc se reabilitou dos débitos passados enfretando a fogueira. Queria eu poder queimar eesa página da minha vida numa fogueira da inquisição.

Vou ver esse filme, sim. Fiquei muito interessada. Ainda mais pela indicação, rs.

Mas, obrigada por tentar me confortar. Penso que talvez seja melhor não utilizar mesmo a lupa.

As entrelinhas, ao contrário do que pensou, são poucas. A história está mesmo quase que na íntegra. Mesmo que não estivesse. "Eu tô falando de amizade." Ouço Tony Garrido cantar no pé do meu ouvido. Aliás, vou postar essa musica como pano de fundo para minha dor.(Espaço democrático é mesmo libertador. Viva o Blog!)

Um beijo e obrigada ela força.

Elga

Fernanda Matos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernanda Matos disse...

Infelizmente...tudo verdade...
O seu sofrimento.
A decepção causada...naquele dia que era dela...
A minha vergonha e irresponsabilidade de icentivar a crença em você nela...
A perda daquilo que era verdade...
Os repetidos erros...
Perigosos como monstros.
Também será verdade...a continuação da história...

Bel disse...

Elga,
...apesar da inversão da tua leitura sobre a minha ... a essência permanece a mesma. A reflexão ensimesmada. A tentativa de cura, a necessidade de proteção, uma (ou muitas) forma de se chamar a atenção. A exigência em ser.
Os tropeços...dentro e fora da cena se ampliam com a iluminação. A luz em cena: acentua as fragilidades de expressão e aumentam as incorreções.
Bem sabes da tua potência em se desnudar e sabes que podes controlar toda e qualquer força pra além de ti mesma.
O vento empurra tudo pra longe e traz tudo de volta aos poucos. Eu confio nele. Poderias confiar em ti também... e depois....nele.
Um beijo.
Tu já me alimentas em meus devaneios.
Coragem (como se diz no teatro: CORAGEM!). É só disso que precisamos.
Alivie-se..
Um beijo afetuoso,
Sua admiradora.
Bel.

Sheyla disse...

Elga,
Tenho vários colegas. Mas, amigos, de verdade, são menos que cinco.
Já feri e fui ferida por algumas pessoas que não eram minhas amigas ou amigos. Pessoas conhecidas, alguns/algumas com quem convivi durante um certo período. Graças a Deus, creio que consegui me desculpar com essas pessoas. Sinto-me leve.
O pedido de perdão, registrado no blog, tem um valor imensurável. Quem poderá atirar a primeira pedra? Ninguém!
Talvez, tudo o que vc possa ter aprendido com a Ana e tudo o que vc possa ter ensinado já tenha acontecido.
Que a sua vida, a da Ana e a de todos nós continue a seguir repleta de esperanças, sempre!
Com carinho,
Sheyla.

Elga Arantes disse...

A todas vcs, obrigada pelas palavras de apoio. Não sei se realmente mereço. Mas me fez sentir rodeada de pessoas. Só por isso já valeu. Sentir que tem gente comigo, perto, dividindo algum espaço em comum, Mesmo que seja virtual. Ah! "A modernidade líquida", tem seu lado positivo. Calor, nem que seja do processador funcionando.
É mto bom.
Valeu para outras coisas que me tem acontecido.
Desculpe a confusão semântica, estou meio sem alento esses dias.
As favas com as criticas sobre meu blog. Adoro isso aqui.

Anônimo disse...

???????????????

Anônimo disse...

Como é que você imagina que você mesmo deveria ser para ser digno de seu próprio amor e aprovação?
Narcisismo e vergonha caminham em paralelo.

Olá Elga..
É óbvio que eu não sei o que você andou aprontando.. Talvez você tenha completa razão em sua culpa, então deixe que a Ana faça o julgamento se você foi ou é importante para ela não há motivos para ela não ser sincera.

Não seja cruel..

Elga Arantes disse...

Aprontei. Deixei de ir a formatura de uma amiga queridissima, que deixou de dar um convite para alguém que poderia ter ido compartilhar um momento importante na vida dela, para me dar. Eu não fui.
Esse momento para ela teve uma importancia que não teve para mim.
Deixei de ir por irrésponsabilidade.
Mas mudando de assunto G, vc sumiu. Apareça...

Karen disse...

Oi Florzinha,
Estava off line esses dias..puxa. Perdi uma coisa importante aqui hã?
A pior de todas, ressaca moral. Esta sim faz a cabeça explodir com tantos "serás, deverias".
Pelo jeito todas andaram aprontando, rsss.
Nos últimos tempos magoei muito algumas pessoas, também se pudesse voltar atrás, voltaria, mas não somos donas do tempo então penso que desculpas sinceras valem muito. Mas em relaçnao a ferir o sentimento alheio, tenho falado sobre isso com a minha terapeuta e ela me mostrou uma maneira diferente de enxergar as coisas. Muitas vezes as pessoas abusam de nós e nem percebemos. Como ela diz, estou rodeada de relaçnoes de abusador x abusado. E não é um abuso explícito, e sim este tipo: "eu preciso de vc, porque vc é mais forte que eu, como vc ousa me deixar agora?". Abuso emocional. Até começar a terapia eu fazia muitas coisas contra minha vontade simplesmente para não magoar os outros e percebi que minha irritação se dava muito mais a isso do que não ter a Lelê aqui. Foi quando aprendi a falar não qdo tenho vontade e a dor do outro muitas vezes é causada pelo egoísmo por não entender o meu ponto de vista. Agora penso que cada um aprenda a lidar com suas dores, que não sou obrigada a me ferir para nnao ferir alguém. Tb fui ferida durante este tempo mas vearias pessoas perdoei. Amo cada uma delas de um jeito deiferente e por mais q tenham me machucado (foram coisas bem feias te conto pesoalmente) eu as desculpei. Se a sua amiga te ama de verdade ela vai entender. Mas dê tempo ao tempo. Tudo se resolve quando as intenções são verdadeiras.

bjs

Sheyla disse...

Elga,
Como eu não sabia se contava sobre o Hospital de Apoio aqui ou lá no meu blog, já escrevi um pouco lá.
Bjs,
Sheyla

Sheyla disse...

Elga,
Que bom que já tens essa vontade do voluntariado. Agora é só semear.
Bjs mil.

Karen disse...

Oi Florzinha(s),
espero que esteja melhor.
bjs

Bel disse...

Elga,
Sou de Floripa mas moro em Curitiba. Já morei em Belo Horizonte e em Brasília. Mundo pequeno como digo: mundo bolinha de gude...daquelas bem coloridinhas. Conheci uma das do teu clã....a Sheyla...convivemos durante minha morada em Brasília. Ela também faz arte...
E sou arteira de alma cheia. E desnudar-me é a uma promessa feita por mim...pra mim.
Um beijo,
Bel.

Elga Arantes disse...

Vou repetira aqui algumas coisas que já falei a Estrela antes e postar na ‘casa’ de cada uma.
Fiquei um pouco sumida porque estava estranha, oca. Não sabia o que escrever. Começava e não tinha ânimo para continuar. Outras vezes, me perdia na gana de falar de mil coisas que vem me rodeando, como fantasmas que atormentam os personagens de desenho animado, e acabava não conseguindo organizar meus pensamentos.
Quero que saibam que fiquei radiante pelo codinome, pseudônimo, apelido ... (é o que mesmo? rs) CORAÇÃO. A justificativa melhor ainda. A responsável por agregar e integrar. Não se esqueçam que talvez se fossem outras as pessoas com as quais tentasse uma aproximação, não haveria tamanha reciprocidade. Portanto, o mérito é de todas nós e talvez da providência divina ou das energias cósmicas, que no final acaba sendo a mesma coisa. Pense que teremos, no mínimo, um episódio pitoresco e muito bacana de nossas vidas para contar para nossos filhos, netos, sobrinhos...
Torço para que nossa admiração e encantamento não findem antes de nos conhecermos e fazer um encontro Sex in the city bem bacana em um evento bem original!
Apesar da singularidade e do curto tempo das relações estabelecidas, o que a gente oferece umas as outras é o que temos de mais genuíno: a intimidade de nossos pensamento, sentimentos, fragilidades, medos, dúvidas. Essência. Estamos nos conhecendo por dentro para, quem sabe, visualizar a carcaça, posteriormente.
Um carinho em todas.

Bel disse...

Que lindo isso! Mereceria um post.
Vim te dizer que penso sobre isso? Pra mim, o que se dá por aqui é o avesso do que vivemos nessa vida uregente. E, considerando (um tanto ) de fantasia .. o tempo consolida e confirma o afeto já presente. Como sempre... só ele dá consitência. Veremos!
Que teus desejos ... nos realizem.
Um beijo...
Bel.