sábado, 19 de julho de 2008

"Uma versão nova para uma velha história"



A paixão, essa, indubitavelmente, partira. Não que tivessem a certeza do definitivo adeus daquele sentimento. Mesmo porque, comprovavam de tempos em tempos a afinidade física, o desejo pungente, a atração ainda bem acesos, mesmo depois de tantos anos.

Fosse, talvez, nenhum indício que não apenas uma artimanha da providência divina, ou da sapiência da própria natureza para lembrar que eram também animais e, assim, amenizar a soberba inata da espécie humana.

Fato é que eles não mais sentiam palpitações quando se encontravam; não transpiravam e ruborizavam ao se olharem; nem repetiam cansativamente o mantra “Desliga você”, quando falavam ao telefone de assuntos diferentes das triviais conversas sobre a doçura do Mel, mas que também eram condimentadas. Mistura estranha de pimenta, açúcar e sonho – de padaria; mas sonhos.

O que ficara daqueles dois fôra a admiração, o respeito, amizade, o carinho e o zelo. Ops! Amor? O amor... Também, como não amar alguém a quem se tem gratidão sincera?

Ela era grata ao mar de bons momentos e até ao tsunami de emoções, os quais enfrentaram. Grata por ele ter se permitido também aprender com ela nos momentos em que a ensinava.

Era grata por ele ter sido seu leal companheiro de jornada, até os dias atuais. Por ele ter oferecido seus amigos mais caros e que hoje eram dela amigos também; e por emprestar-lhe uma família que ela aprendeu a amar, como se dela fosse.

Grata, até pela sinceridade que a dilacerou em um momento tão delicado, mas que fizera dela a mulher forte que ela enxergava no espelho.

Acima de tudo, era grata, pois, através dele, tinha dias mais doces e sentia a plenitude do amor incondicional. E se deleitando assim, todos os dias naquele mel, o mel que veio dele, como não dizer do amor que estará com ela por toda a vida, mesmo que não disputassem mais a janela do banheiro ou dividissem o colchão na sala.

Como seria triste ter que matar um amor para permitir o nascimento de um novo. Mas, não. “Somos mais que isso”, pensou. Para ela, cada amor era único e, portanto, insubstituível. Princípio exato, travestido de clichê. Podemos colecionar os amores ao invés de trocá-los reduzindo-os a simples objetos que se tornam obsoletos.

Absoluto. Era o que havia se tornado aquele sentimento para ela. Era livre e soberano. Não dependia mais de estarem juntos. Aceitara o futuro sem a obrigação do passado. E aquilo era um presente...

Karen Mastria, uma querida, já lhe dissera que “Desligamento é desobrigar-se de uma pessoa ou situaçao com amor” e que “... desligamento não significa desligar-se das pessoas que se ama, mas da agonia do envolvimento.”.

Valentina”, com sua “Palavra Avulsa” muito havia ensinado nos últimos dias àquela mulher.

Por Elga Arantes, 2008.


7 comentários:

Karen disse...

Nossa, juro que chorei de tão emocionada.
O interessante é que enquanto eu lia, me via em seu texto, sem tão perfeito. Mal imaginava que, ao final seríamos citadas com tanto carinho e emoção. A sensação que ficou é a de que você entrou em minha alma e a decodificou com suas lindas palavras.

Sabe, não acho que seja covarde você não ter coragem de imaginar não ter a µel com você, nenhuma mãe no mundo na verade deveria sequer imaginar o que é isso, uito menos sentir.

São pessoas como você que me fazem perceber que por menor que seja, consigo contribuir com algo positivo transformando a minha dor em simples palavras.

Grande beijo.

Rodrigo Alves de Carvalho disse...

Belo texto,

Obrigado pelo coments em meu blog.

Beijos

sblogonoff café disse...

Olá, Elga!
Eu já havia visto você antes em outro blog e entrevi, só de ler, o scrip que liga vidas!!!
Foi uma grata surpresa visitar o meu café! É bem vinda lá!

***
Chegar à certas conclusões e proceder conforme o que descobrimos, demonstra amadurecimento. Não é fácil lidar com algumas questões, especialmente deixar o passado ir e aceitar o presente como uma dádiva que o tempo nos entrega.
São vitórias internas que devemos valorizar muito né?
Tanta gente tece tramas doloridas por não saber lidar com isso tudo, por não aprender a "desligar"!
O campo dar energias têm uma importância enorme em nossas vidas, e toda vez que limpamos nossa visão, é como se um pote de ouro surgisse no final de cada arco-íris!!

Feliz por ler algumas coisas em seu post. Se parecem muito com as que tenho vivenciado!

Um grande abraço!

Silvia /('.')\ disse...

olá Olga!
obrigado pelo comentário que vc me deixou,
fico feliz de ler o que vc sente, é uma troca, cada uma em seu desligamento próprio...e vamos em frente... :) coração na mão como um refrão de um bolero (engenheiros)
boa semana

Elga Arantes disse...

Karen, precisava te agradecer pelo bem que você, provavelmente, nem sabia que estava me fazendo.

Rodrigo, agradeço a visitinha.

Sblogonoff (ainda não verifiquei seu nome, desculpe) e Sylvia, as pessoas sempre têm coisas em comum. A sensibilidade de vocês é o que mais me encanta.

Carinho em todos.

Lidiane Piotto disse...

Oi Elga,

esse post foi tão lindo, que o li umas três vezes. Achei lindo também esse "ensinamento" da sua colega Karen, precioso!

Carinho, Lidy!

Elga Arantes disse...

Lid's, que surpresa!!!
Muito bom você aqui. Que bom que gostou do post. Viu como você é íntima??? kkkkk

Apareça, mais.

Saudades.