sábado, 12 de julho de 2008

...e todos sambaram ao som da zabumba.


Ela falou o que de mais importante havia para ser dito daquela história.

Ela já dissera quase tudo para satisfazer a curiosidade infantil de Alice. Mas também falara coisas que fizera Olívia agradecer mais uma vez à vida por sua sutileza em sempre salvá-la do tédio, mostrando como essa pode ser sempre original e surpreendente.

Ela não se escondeu atrás de suas vaidades que, de tempos em tempos, de textos em textos, confessava ter. Ela se mostrou de cara limpa, coração bom, palavras transparentes.

Ela escancarou sua sensibilidade ao relatar sentimentos tão íntimos e de tanta nobreza! Ao mesmo tempo, confessou suas fraquezas em relatos, contraditoriamente, de coragem singular.

Aquela moça meiga com carinha de boneca de porcelana e que transparecia através de seus textos a delicadeza das fadinhas dos contos infantis a fizera chorar. Quanto poder há de existir em tanta doçura?

Era assim que elas, as outras três, a enxergara. Forte e determinada como Olívia, romântica e sonhadora como Alice e paradoxal e humana como a outra, a terceira. Por isso, era óbvia, a identificação. Sem se reconhecerem uma na outra, a curiosidade, talvez, não vingasse. Apenas, talvez, pois esse parecia ser um dos traços mais fortes que possuíam em comum.

Mas essa curiosidade não era pueril, excêntrica ou infame. Não era apenas um capricho. Era próprio de pessoas que amam o ser humano, no sentido de ter orgulho de sê-lo realmente. De assumir o papel daquela espécie com o que ela tem de mais pungente, de mais primordial, de mais inato. A humanidade desnudada dos preconceitos, dos medos, das vaidades. Cidadãs do mundo, livres das convenções que limitam as trocas nas relações humanas; do orgulho que estanca a espontaneidade que aquece a alma; da soberba que confina e dissimula desejos em prol de consentimentos sociais construídos com bases em valores efêmeros e torpes.

Eram também, evidentemente diferentes em suas semelhanças. Uma era, certamente, mais "paty" que a outra. Ainda bem. Sinal de possibilidade de troca, doação. Mas se o encanto por aquele inusitado ocorrido se findasse mesmo ali, nas próximas horas, poder-se-ia arriscar dizer que já haviam aprendido alguma coisa. E a coisa era boa. No mínimo, aquilo ilustrava certezas ou simples sensações que já nutriam ao longo de suas trajetórias.

Provavelmente, as duas ouviriam o tilintar do triângulo naquele final de semana. Pensariam nos ângulos daquele outro. Cada uma na casa que melhor acolhia seus gostos e desgostos. Até isso as aproximavam.

Leu aquele torpedo de tom educadamente imperativo e obedeceu. Afinal, aquela exortação não era nada mais que o sinal de sua “ansiedade desmedida”, outro forte atributo que as uniam nas semelhanças.


Por Elga Arantes, 2008.

5 comentários:

Anônimo disse...

Quase que instantaneamente, eu entrei aqui e vc colocou o novo texto.

Me deixou muito curiosa. Também só se falou disso aqui, kkkkk.

Precisamos nos encontrar. Vamos?

Um grande beijo.

Cris

Ela disse...

E é isso o que há de melhor na vida! Reconhecer-se no diferente e saber-se unido a ele, por alguma volta que a vida dá: tudo ao som do triângulo e da zabumba!

Beijos,
Luiza

Patrícia Ferraz disse...

Somos uma, duas, três. Alice, Olívia, Clara, Joana e a outra. E somos também nós no outro e o outro em nós. Viemos da Unidade e para a Unidade caminhamos.

Que ela seja cada vez menos "paty", para se integrar ao todo, integralmente. E que a porcelana da casca se sublime a ponto de sensibilizar as fibras do coração!

Lindo post! Um abraço grande, pra pegar as duas da foto.

Karen disse...

Oi Elga,

Obrigada por sua visita, seu comentário me fez chorar...fico muito grata por todas as visitinhas que recebo e vejo que pessoas que não conheço como você com seus perfeitos posts me tocam sempre de alguma maneira e me inspiram que a vida realmente ensina a todas nós, uma de cada maneira.

Um grande beijo.

Elga Arantes disse...

Mulheres,

Nosso universo é assim, não é?!

Rico de tudo.

Um beijo em cada uma.