EXPLANAÇÕES (s.f., expor com minúcia, explicar com desenvolvimento)

Ontem, um comentário me fez pensar.

Aliás, nesta semana, em especial, tudo me faz pensar. Até agora, enquanto penso em como tentar explicar meus sentimentos mais emergentes, também penso no porquê de espetar meus lábios com as pontinhas do cabelo ou no porquê de mordê-los, pressionando-os com as pontas dos dedos médios e indicadores, quando estou em momentos de auto-confabulações. Sempre que escrevo faço um dos movimentos.

Se fosse um trabalho acadêmico, antes de começar a escrever, faria a pauta:

1°) instabilidade
2°) coincidências e suas definições
3°) humildade x vaidade
4°) honestidade
5°) humanidade
6°) coragem

Mas pouco, ou de nada, adiantaria tal esquema aqui. Nesse espaço, sou quase que puramente meus sentimentos e sensações mais espontâneos e instantâneos, com potencial grande para a transfiguração. Metamorfosearia meus propósitos em vários momentos. Provavelmente...

Ou surpreenderia a mim mesma seguindo meu roteiro à risca. Mas até nisso haveria surpresa. E autonomia. Tal roteiro não se sucederia intencionalmente. Teria sido mera coincidência. Coincidência, segundo tema. Olha a pauta seguindo seu destino de forma casual. Reflexões paralelas à parte, essas conexões parecem realmente necessárias para explanar os fatos e causas aqui proferidos.

Olha a pauta querendo fugir do meu controle, agora. Motim de idéias alvoroçadas; tumulto de noções; juízos desalinhados. Caos especulativo. Ah! Assim ficou bonito! O caos é lindo! É a balbúrdia antes de se formar o mundo. O meu mundo de idéias. É a prévia da harmonia. E meus desígnios mais imediatos deliberam harmonia aos meus caprichos. Harmonizemos, então! Aqui, vou preterir minhas vontades aos meus intentos originais.

Havia mencionado que até seguir a pauta previamente descrita, teria sido mera coincidência. E já começo a ter tendências a acreditar que, “ou não...”. Fato é que essa palavra, coincidência, tem mexido comigo nesse dias, mais do que sempre mexera. Parei. Fui ao dicionário.

“Coincidência: s.f., Simultaneidade de dois acontecimentos; concordância; justaposição; identificação de duas ou mais coisas; acaso.”

Repeti: "Acaso..." Refleti: "Acaso?"

Como minha inquietude não se saciou apenas com último post, fui além. Voltei ao avô de Chico:

“Acaso: s.m., sucesso imprevisto; eventualidade; riscos; perigos”

Continuei, incontrolável:

“Concordância: s.f., acordo; conformidade; harmonia; consonância; identidade; coerência.”

E como humana primordial, fui imparcialmente oportunista e parcialmente íntegra. Escolhi as definições que mais facilmente me fariam chegar a um resultado favorável.

"Sucesso imprevisto" é a definição magistral para as concatenações que meus pensamentos articulam hoje. Para o roteiro aqui exposto; para as novas e agradáveis amizades; para as novas, agradáveis e improváveis amizades; para os reencontros esmerados; para aquele outro que pareciam inócuo. Todos, imprevisivelmente, muito bem sucedidos.

Tais processos só assim ocorreram porque foram alicerçados com a humildade que venceu minha vaidade congênita e fútil. A honestidade para aceitar minhas fraquezas e infinitas imperfeições. Humanidade para entender as fraquezas e imperfeições alheias. E coragem para sentir e publicar tamanha intimidade.

Pauta cumprida. Ficou quase redondinho, não fosse o sentimento de hesitação que teima em agitar convulsivamente minha engenhoca cerebral.

Por Elga Arantes, 2008.