segunda-feira, 21 de julho de 2008

Efemeramente serena.

Todos os dias quando se sentava para escrever, sua cabeça já era um turbilhão de pensamentos mesclados a outros. Mesmo no intervalo de tempo entre sentar-se, abrir o caderno e apontar os lápis, Sofia já haveria de mudar de opinião, de posição, de tema, e até de humor umas “Sei lá quantas vezes”. Até quando pensava nisso, mudava rapidamente de idéia.

E de idéia em idéia, de juízo em juízo, ia assim, escrevendo, pensando e vivendo. Depois experimentava, concluía e desconstruía. Antes, isso a incomodava. Diziam ser ela pessoa instável. Até de desequilibrada já ousaram acusá-la. E quando ela se defendia, recusando esse último adjetivo, justificavam não ser em termos pejorativos. Ficou uma semana inteira pensando se para o desequilíbrio existiria definição de algum conotativo menos alvitante. Achou que não.

Importante é que depois, tais apontamentos sobre sua personalidade flutuante, não mais a incomodava. Passou até a apreciar. Achava bonito ter mente hesitante, ou pensamento infiel. Soava poético. É verdade que esse último meio a la “Nelson Rodrigues”, mas e daí? Ela gostava mesmo do estado comovido da alma em qualquer estilo. Pensando bem, adorava Nelson Rodrigues.

Mas hoje... hoje ficava provado, mais uma vez, que o que a incitava a escrever era a inquietude de seu entusiasmo, de sua existência, de sua consciência. E a consciência e o coração daquela mulher, naquele dia, estavam mais mansos, tornando sua existência menos enigmática para ela mesma. Hoje também, preteria a idéia de inspiração, considerando incitação termo mais adequado. Mas isso, com certeza, seria reconsiderado mais umas tantas vezes, pelo menos, já que toda vida tentou formular opinião sobre a existência da tal inspiração, sem efeito.

Sempre quando Sofia tomava alguma decisão, sabia da possibilidade da sua revogação, mas enquanto isso não acontecia, sentia como num enlevo de pós coito, onde o corpo saciado parecia inanimado. Mas tal qual a matéria, apenas parecia desprovido de ânimo, pois sentia a mente vivaz e se sentia capaz de pô-la em ordem, determinar, tornando-se, assim, senhora de si mesma.

Não demoraria, sentiria novamente ímpetos de escrever incessantemente como se psicografando estivesse. Mas naqueles instantes mais recentes seu coração apenas pairava, resoluto.


Por Elga Arantes, 2008.


7 comentários:

Confissões de Um Ego disse...

quem disse que nao tem vida inteligente na internet????


adorei o que li aki bjoks

Karen disse...

Mentes inquietas são combustível para a criação. Tenho sintomas parecidos...penso em algo, sento para escrever, começo com um tema, quando vejo já estou em uma terceira história...
Mas escrever é a melhor coisa para a alma..assim penso.

bjs

Anônimo disse...

Não somente escrevendo se tem tal inquietude. Ao ler seu texto me senti domado por tal sentimento. É gostoso perceber tamanho gozo pela escrita. Mais gostoso ainda é estar presente em alguma linha ali expressa. Continue com esta inquietude. Parabéns.

Anônimo disse...

TAVA LENDO SEU BLOG TODO.

DEU PRA RIR E CHORAR.

O MAIS LEGAL, ACHEI O DOS BICHOS. DIFERENTE, ENGRAÇADO, CHEIO DE TROCADILHOS. KKKKKK

MASSA DE MAIS!

Fernanda Matos disse...

Inquietude linda e corajosa...

Anônimo disse...

pq vc ecreve "de mais" e não "demais"?
Já percebi isso em alguns de seus escritos...agora neste comentário

Vc se entregou

risos

Podia fazer Marketing

Elga Arantes disse...

"Confissões",obrigada pelo elogio. Fique sempre a vontade. Te fiz uma visita.

Karen, minha, já, amiga, ainda bem que temos a escrita para exorcizar nossos medos e tristezas, né?

Rodox, que bom que apareceu. Não sabe como fico feliz de pessoas que admiro tanto se interessarem pelas coisas que faço. Ainda mais em tempos tão solitários e transitórios para mim. Apareça mais. Aqui, ali e acolá, meu amigo.

Anônimo 1,obrigada. Adoro receber elogios. Sou vaidosa, sim - defeito. Mas honesta tb - ponto pra mim.

Nanda, somos assim, minha querida amiga. Te amo.

Anônimo 2, é pena que pensa assim. Sou vaidosa, mas não cheguei a tanto. Mesmo assim acho "demais" que se interesse tanto assim por mim. Não deixa de ser um elogio. Primeiro fiquei chateada, ia apagar. Depois pensei ser direito seu escrever o que pensa. Prêmio pela sua autenticidade: deixar seu comentário aqui. Castigo: achar vc pouco corajoso em não assinar. Se me conhecesse, saberia que gosto de receber críticas tb. Assim, posso ficar melhor nas coisas que faço.