quarta-feira, 9 de julho de 2008

A arte de não ouvir.



Hoje estive pensando na força quase que inexplicavelmente avassaladora das palavras e seus infinitos recursos e coajuntos na arte de divagar ou, simplesmente, dizer alguma coisa. (o post abaixo ilustra bem isso)

Nada mais singelo e eficiente que a inveterada fala do cômico personagem Chaves para esclarecer uma frase dita leviana e displicentemente e, ainda, paradoxalmente proferida de forma totalmente inócua do que: “Eu só quis dizer”.

E eu disse "sem querer querendo", mas falei. E quando isso me ocorreu, esperei um doloroso - e me defendo, não merecido - “soco na cabeça dado pelo Sr. Madruga”. Contraditoriamente, o que recebi foi o silêncio. O nada. O vago. E eu... não soube lidar com tamanha repreensão. Aquilo foi pior que uma resposta furiosa. Insisto, mesmo que minha ofensa não tenha sido intencional.

Fez-me então pensar sobre duas situações: primeiro, na real isenção de intenções e sentidos em nossos discursos. Depois, me fez pensar sobre o poder das palavras silenciadas. A recusa da recompensa. A força da omissão.

Penso que não existe discurso e palavra se sua existência não for legitimada pelo reconhecimento de pelo menos um ouvinte ou um leitor. Sendo assim, ao receptor chegam as informações e alguma coisa é feita com elas. A decodificação de tais sinais, sua interpretação, provoca sentidos e sensações. O que vai se distinguir nesse processo é a natureza e a intensidade de tais sentimentos e significados.

Finalmente, depois de tal experiência, me dei conta de que sou responsável pela produção do que falo e do que escrevo já que me é consciente que elas terão um destino, seja ele qual for. Sempre haverá, pelo menos, um interlocutor, um ouvinte, um leitor. Quero dizer com isso que minha despretensão ou displicência não me imuniza das responsabilidades produzidas por tais atitudes.

Sobre o incômodo silêncio recebido, nada teria sido mais cruel. Uma resposta rancorosa e magoada me ofereceria a cômoda posição de retrucado e, também, difamado. Mas aquele silêncio foi a recusa do meu direito à redenção. Foi como se me oferecesse a outra face e eu, como um bom covarde, dispensei. Pior para mim. Ali, me tornei um nada maior ainda – mas nada não é mensurável. Ou é? - Nem mocinho, nem vilão.

Como aquilo doeu! Uma dor sem graça. Pudera, nunca soube mesmo lidar de forma original com a indiferença.

Naquele episódio, foi como se a vida me dissesse: “Agora, agüenta!” E eu agüento! Afinal, mesmo que me tire do eixo, sempre me dispus a agüentar as conseqüências e a reformular meus conceitos. E sem prazo de carência algum.

Falando nisso, preciso repensar o “NADA”...

Por Elga Arantes, 2008.

3 comentários:

Anônimo disse...

MUITO, MUITO BOM!

BEIJOS, SUA SAUDOSA PATY.

Anônimo disse...

Continua dura e implacável com todo mundo. Até com você mesmo.

Karen disse...

Realmente o silêncio é a melhor resposta. Para quem nada ouve é muito mais dolorido do que palaras infames, mas para quem o faz a paz posterior é recompensadora.

Aprendi isso nos últimos tempos. A melhor resposta é o silêncio e desde que passei a agir de tal foma me sinto muto mais digna.

Você escreve muito bem, é uma deícia ler seus textos.
bjs