segunda-feira, 30 de junho de 2008

Sobre segundos e reais. (ou Era uma vez...)


Uma vez era uma menina que achava que tinha tudo que precisava. Tinha pai, mãe, irmãs, bicicleta rosa com cestinha e até uma gangorra no jardim de sua casa. Destacava-se na escola, dançava ballet, viajava todos os anos, fazenda em Goiás, cavalo e fogueira perto do paiol; rio quente, família grande com muitas tias falantes e primos que abusavam do “erre retroflexo”. Gostava do mar e da música de uma maneira especial.

A moça foi crescendo e com ela sua vontade de ser mais, depois de ter mais - maldito sistema produtivo! Quis viajar mais, falar outras línguas, ir mais ao cinema e ao teatro, ter um carro, apartamento, emprego que a realizasse pessoal e financeiramente, ler muito mais, saber muito mais, dançar mais, ter mais amigos, amores, ganhar flores todo o aniversário.

Passou a exigir de si mesma sair do Brasil até os vinte anos, trocar de carro todos os anos, ser promovida em menos de um ano, discutir Nietzsche e qualquer outro autor de nome imponente como quem canta Atirei o pau no gato. Flores passaram a ser ridículas quando ganhadas nas datas convencionais.

Essa mulher foi se esquecendo do cinema e do teatro, da realização pessoal na vida profissional, se frustrava todo final de mês quando percebia não ter lido sequer a revistinha da “Turma da Mônica”. Deixara o ballet há tempos e começou a receber a visita de seus amigos no portão, rapidamente, para entregar o convite de chá de panela, chá de bebê, casamento, batizado, aniversário. E ela ainda não falava inglês. E já estudara muito. Tanto que mudara de prédio na universidade quatro vezes.

Um dia, (ou foi numa noite?) percebeu que precisava, basicamente, de duas coisas na vida: tempo e dinheiro.

Em um outro dia, (e era dia mesmo, porque era claro como o sol) concluiu que o chavão “tempo é dinheiro” era uma farsa já que relógio e moeda só apareciam juntos mesmo quando o primeiro era comercializado pelo segundo, mas também em questão de segundos, já não estavam mais juntos.

Mas também concluiu que fortalecera os laços de família e ampliara sua lista de amigos fiéis. Que aprendera a falar a língua que a permitia se entender com Alice e Olívia em dias de TPM. Que ballet era bonito, mas que samba era libertador. Que havia tido mais de um amor de verdade, algumas paixões avassaladoras e quem a amasse de verdade pelo menos uma vez. Que ainda não saira do Brasil porque agora já era mãe e não havia melhor viagem que essa.

Desistiu do dinheiro para tentar ganhar mais tempo, na esperança de que com tempo pudesse juntar o dinheiro necessário para que não precisasse mais pensar em dinheiro pelo menos por um tempo. Desistiu de novo...

Invenções humanas são, realmente, imperfeitas. O ciclo não fecha... Não existe realmente círculo perfeito? Optou por dar prioridade as “invenções” da suposta providência divina: ao Mel que tem as amizades e os sentimentos que faziam seu coração bater mais devagar, mais compassado, que lhe dessem o oxigênio necessário – para o corpo e para a mente.

Reformulou seu conceito para a palavra "basicamente".

Uma outra vez era uma "menina" que achava que tinha tudo que precisava.

Por Elga Arantes, 2008.

“Mamãe, sabe de uma coisa... (?) Você é feliz!”
Mel, aos 2 anos e 4 meses.

8 comentários:

Luann disse...

muito bom parabens

Anônimo disse...

“Era uma menina que tinha tudo o que precisava, mas não era feliz!
Estava incompleta!

E então “Naquele doce fevereiro”.......

“Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida.
- ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva?
Não perguntes, segue-o!”

Sabe.. não vou melar muito hoje... talvez eu esteja tendo a percepção errada do momento, afinal já há tanto tempo a gente não se vê , e sem você por perto não consigo exercitar o músculo cerebral.

O Nietzche pode me ajudar mais uma vez.

“Muitos são os obstinados que se empenham no caminho que escolheram, poucos os que se empenham no objetivo.”

Espero muito que a mel saiba das coisas!

Abraços

Anônimo disse...

As crianças sabem mais... têm mais tempo...

Rodrigo Alves de Carvalho disse...

Saudações Socialistas,

Foi com muita alegria que, ao visitar o seu blog, deparei-me com um link para o meu blog... E por você estar ajudando a divulgar o meu blog, farei o mesmo por você...
Coloquei um link para o seu blog em minha página de parceiros.

Um grande beijo e sucesso com o blog, ele tá muito lindo, parabéns!

Rodrigo - http://radicalidadedemocratica.blogspot.com/

Elga Arantes disse...

Quase anônimo, já lhe fiz uma visita.
Gê, sempre me completando e me contemplando com suas palavras.
E Rodrigo, gosto mesmo do seu blog. Tem um quê de "cai na real" que gosto muito. Não posso me dizer marxista, mas sou, absolutamente, simpatizante. Que bom que gosta de algo mais flutuante tembém.
Obrigada e fique sempre à vontade.

Um abraço,

Elga

Anônimo disse...

Elga,

O que da sentido a vida são nossos valores. Graças a Deus eles mudam. O importante não é atingir os objetivos e sim ter objetivos para atingir.

Certo dia ouvi uma pessoa falando que: “quando somos jovens, tempos tempo, energia e não temo dinheiro. Quando somos adultos tempos dinheiro, energia, mas não temos tempo. E quando ficamos velhos temos tempo, dinheiro mas não temos energia”.

Acho isso plausível mas não uma regra. Podemos nos policiar e fazer dedicar cada minuto do nosso tempo para aproveitar a energia e/ou dinheiro que tempo. Não acha?

Mais uma vez parabéns pelo blog.

Bj.

Anônimo disse...

depende do "PONTO DE VISTA".

Anônimo disse...

Certamente,
O que “da sentido” a vida são nossas necessidades, e os valores podem ser uma delas.

Sentir-se realizado.. É estar feliz.
Realizar um desejo ou necessidade não é ....alcançar um objetivo?

Sim.. Precisamos de objetivos para viver.. Mas a vida pode ser maravilhosa...

Então... Você tem fome de que ?