domingo, 22 de junho de 2008

Olívia não quer ouvir funk

Adolph quis abraçar o mundo com as pernas. Napoleão também. Mas essa última é uma outra história, mais antiga, que Olívia deixou pra depois, pois suas páginas já estavam amareladas e hoje seu dia era branco.

“Quem dera fosse ‘pro que der e vier’!” – pensou.


O dia parecia mesmo branco como a Página em Branco escrita pelo mesmo Adolph e que Olívia ainda não lera e, por isso, pensou que para ela aquela página tinha a cor preta, porque preto sim era a ausência das cores. Assim, observou melhor e reconsiderou: seu dia era preto!

Mas o dele não... era mesmo branco. Refletia as cores, muitas cores, muitas coisas, muita gente. Tanta, que até sobrava. E sua mãe, a quem quase nunca dava ouvidos, sempre a alertara que o excesso nunca é bom, nem mesmo o da bondade. E acrescentava, com ares de quem houvesse descoberto o fogo, que Caetano falava de excesso quando cantava que “o mal é bom e o bem, cruel”.

Com tantas possibilidades, Adolph tentava mesmo abraçar o mundo com as pernas. Queria “ser médico e piloto de avião” (com a licença do autor).

Queria ser sincero, enganando; queria receber o bem, pagando apenas o sinal; queria pegar, sem abrir mão; queria ganhar o jogo, sem apostar; queria ter muito, sendo pouco.

Ele acreditava que legitimaria seus sentimentos com o fraco argumento da reciprocidade, fazendo do outro cúmplice de seus crimes.

E para Olívia era um crime expor alguém que não escolhera ser espetáculo. Era crime tolhir o direito que as pessoas tem de escolher como escrever sua própria história. E quem sofria o golpe, sentia o punhal penetrando suas costas e, assim, sofria duas vezes.

Se dando o direito da defesa, usando um neologismo emergente que nomeou pseudo-auto-compaixao e, ao mesmo tempo, alegando-se, contraditoriamente, vítima, acreditava que era crime cortar as asas de uma pessoa que nasceu para voar e obrigá-la a caminhar em areia movediça.

Achava triste ter que escrever a lápis quando se queria usar tinta. Voltou a elas. As tintas, as cores! A fusão de todas elas. O branco. Como a cor daquela ave que simboliza a paz. Paz que liberta. Mas não mediante pagamento de fiança, porque paz não se compra, paz se conquista.

Em tempo, era bom lembrar que o crime de manter almas em cativeiro era um crime inafiançável. Assim, nessa história, dinheiro não entrava, mas saía, porque o preço que se pagava pelo prazer era alto demais. E a moeda utilizada era a dignidade do outro, daquele terceiro. Era apropriação indébita, roubo, furto. Dando o nome que se desse, era feio. E faziam da justificativa da escolha a lavagem daquele dinheiro sujo.

Aquela história escrita a lápis – de maneira premeditada – poderia ser apagada, deixando novamente a página em branco. Mas agora um branco simbólico, que não o da pomba, mas a metáfora usada para o vazio, para o nada.

Naquele momento, sem história registrada, sem letra, esperava com o coração colorido de uma esperança branca que a melodia daquela música a surpreendesse.

Mas Olívia olhou a porta ainda aberta e num ímpeto deu os primeiros passos em direção a ela. Precisava sair daquela casa. Tinha mesmo repentinas mudanças de humor. Ela estava indo embora.... mas olhou pra trás e esperou que a música começasse a tocar... Desistiu. Continuou a andar. Ela estava indo embora. Não olharia mais para trás. Mas continuava a esperar que a melodia daquela música servisse ao menos de pano de fundo para as lembranças que viriam, inevitavelmente. Ela estava indo embora. E agora sem ímpetos, parecia...

Por Elga Arantes, 2008

8 comentários:

Anônimo disse...

Ce fumou maconha estragada?
tem tecla sap?

Unknown disse...

Esse "anônimo" eu conheço!
Se quiser eu te digo quem é...
rs

Unknown disse...

...mas cá entre nós!
o Red tava brabo mesmo hein!!!
Vc podia fazer uma nota nas crônicas como esta com os seguintes dizeres: "Não leia. Só eu entendo"
isto é...se vc não tiver amnésia alcoólica!

Elga Arantes disse...

Bom, vamos lá:
Primeiro a nota já existe, logo abaixo do título do blog. Propaganda enganosa não é, portanto.rs
Segundo, vc tá lendo esse texto pensando na minha vida, porque me conhece, acha que não sei? Por isso fica tentando entender. Tente ler despretensiosamente e use como conto ou interpretando para sua vida. Vai ser mais legal!!!
Irmã é foda!!! rsrsrs

Anônimo disse...

Samia,
Não esquenta...
Os gênios são assim mesmo, dotados de excepcional brilhantismo mas freqüentemente também são insensíveis às limitações da mediocridade , tem visão nítida e concisa de uma data situação na qual a interpretação é desnecessária.
O trabalho de um gênio muda a forma como as pessoas vêem o mundo.
Então nos resta: ouvir o som da alma e deixar que ela nos transforme, emocionar-mos com cada lagrima, e talvez ....nossa sensibilidade nos impulsione a um outro nível.
A propósito eu não sou muito bom em guardar nomes, espero que me perdoe por dizer isso mas você e a que tem a “boca sexy”, rs.

Elga Arantes disse...

O que seria de mim e sem o movimento que tem acontecido aqui...
Adoro receber um "alô", crítico ou não. Percebo estar rodeada e vcs sabem como adoro isso. Carente!!!! rs...
Gê, essa é a irmã da "Boca..." sim, vc não errou não. A outra, se casou no sábado último, esta muito bem humorada no gelo das Serras Gaúchas.
Continuem presentes, mesmo que virtualmente.
Beijos.

E.A.: Mesmo mais familiarizada com tais recursos, continuo preferindo encontros em botecos, assim qdo puder...

Unknown disse...

Ow! O Geraldo me chamou de mediocre ou foi impressão minha?

Tô puta...

Só por isso nunca mais falo com "minha boca" com ele rsrsrsr

Elga Arantes disse...

Não.

Ele só quis me deixar feliz, me enaltecendo. Quis fazer um paralelo, tipo "bem e mal", "genialidade e mediocridade".

Além de tudo, quis estabelecer um contato com você. Mesmo com tamanha ambiguidade que possa parecer.